Apesar de a Cacau Show ter caracterizado como “boatos” as reportagens do Metrópoles sobre supostos abusos e uma suposta perseguição a franqueados que criticavam suas práticas, a maior rede de franquias do Brasil tomou uma atitude que parece corroborar as denúncias. A loja de Náira Alvim, que foi a primeira franqueada a romper o silêncio e expor publicamente a situação, teve seu contrato rescindido logo após a veiculação das acusações. A unidade, que estava em processo de transferência para um novo franqueado, foi fechada durante uma visita de representantes da marca na última segunda-feira (2/6).
“Eles chegaram e colocaram placas de ‘fechado’. Fiquei sabendo pelos vizinhos”, relata Náira. Depois de acumular dívidas com a Cacau Show, ela havia encontrado um comprador para a franquia e faltava pouco para a transação ser oficializada. Na rescisão abrupta, a Cacau Show alegou que a venda da loja havia sido frustrada e que não havia mais interesse na continuidade do contrato de franquia, conforme estipulado na cláusula 6.4, que prevê a rescisão em 30 dias.
“Agora, preciso reassumir o imóvel e tentar mitigar um prejuízo que já é imenso”, desabafa.
Náira foi pioneira ao denunciar a Cacau Show, inicialmente utilizando um pseudônimo devido ao medo de represálias. Ela escreveu um livro e criou o perfil “A Doce Amargura”. Após a publicação da primeira matéria pelo Metrópoles, decidiu se identificar e compartilhar abertamente sua experiência em entrevistas. Desde então, outras dezenas de franqueados e ex-franqueados sentiram-se encorajados a falar sobre suas vivências. Em meio à repercussão, Náira assumiu a presidência da Associação de Franqueados e se tornou alvo de ataques nas redes sociais.
Em resposta às denúncias, Alê Costa, fundador e CEO da Cacau Show, enviou uma carta para os franqueados após as revelações sobre processos judiciais e um ambiente de seita e opressão dentro da maior franquia do país. A coluna também destacou a pressão financeira que os franqueados enfrentam devido a cobranças inesperadas e mudanças nas políticas da empresa.
Na carta, Alê Costa menciona um “cenário desafiador” e atribui o aumento nos preços do cacau a fatores climáticos e dificuldades nas lavouras globais. Uma das principais reclamações dos franqueados, no entanto, refere-se à imposição de uma nova taxa chamada “taxa do cacau”. O CEO também destaca a “instabilidade econômica” que, segundo ele, “afetou fatores como crédito e custos operacionais”.
Sobre investimentos, Alê Costa menciona a construção de um novo centro de distribuição e do Cacau Park, um empreendimento de R$ 2 bilhões que, segundo ele, representa o futuro da marca e será motivo de orgulho para os brasileiros.
Ao concluir a carta, ele reconhece o “momento delicado” e reforça que a empresa está mais unida do que nunca, comprometendo-se a gerir a situação da melhor maneira possível.
O texto da carta é uma tentativa de reafirmar a relação de confiança e transparência entre a Cacau Show e seus franqueados, destacando a importância de cada um deles na construção do sucesso da marca.
Contudo, muitos franqueados relatam que a realidade é bem diferente da imagem apresentada pela empresa. Eles compartilham histórias de um ambiente de trabalho opressor, onde a insatisfação é frequentemente silenciada por medo de represálias. Além disso, muitos franqueados enfrentam dificuldades financeiras significativas, muitas vezes resultando em problemas de saúde e estresse psicológico.
Em suma, ao invés de suporte e soluções, muitos franqueados relatam serem alvo de discursos motivacionais e promessas vazias, enquanto enfrentam um cenário de endividamento e desespero. A luta por justiça e reconhecimento das suas dificuldades continua entre os franqueados da Cacau Show, que buscam um espaço seguro para compartilhar suas experiências e buscar ajuda.




