Juliana Oliveira se defendeu das acusações de ingratidão após mencionar Danilo Gentili em um discurso sobre um suposto caso de estupro envolvendo Otávio Mesquita, que ocorreu durante uma gravação do programa The Noite (SBT) em 2016.
A situação começou quando a humorista utilizou trechos de um vídeo que gravou como declaração e do vídeo de resposta de Danilo, que a acusou de mentir ao mencioná-lo e de desconsiderar partes relevantes da cronologia dos fatos. Os dois colaboraram juntos por mais de uma década.
“Antes da minha declaração, eu era chamada de oportunista; agora, sou vista como ingrata. Danilo, você sabe que sempre tive gratidão pela oportunidade que me deu. Sempre te defendi, até mesmo legalmente. Agora, você me chama de mentirosa e diz que eu te traí. Não é assim que as coisas funcionam”, disse Juliana em um novo vídeo.
Ela também destacou um trecho do pronunciamento de Gentili, onde ele afirma que só tomou conhecimento do “crime sexual” em 2020. “‘Nunca soube que a Juliana se sentiu vítima de um crime sexual e queria fazer uma denúncia’, diz ele em seu vídeo”, mencionou.
Juliana então se referiu ao seu próprio pronunciamento anterior, onde declarou: “Só consegui entender verdadeiramente o que aconteceu comigo em 2020, ao ver Danilo defendendo Dani Calabresa em relação a Marcius Melhem. Naquele momento, ele e a direção perceberam a seriedade da situação. Eles até me ofereceram apoio para denunciar Otávio, mas eu recusei, dizendo: ‘Não vou denunciar esse cara’.”
Ela enfatizou que o suporte foi oferecido em 2020, mas que seu medo era real. “Quando digo que Danilo e a direção não tomaram atitude, refiro-me ao período até 2020. No meu vídeo, mencionei que em 2020 me ofereceram apoio. Eu tinha medo de denunciar Otávio, não queria lidar com ele, temia pelas consequências, como perder meu emprego ou ser desacreditada, achando que eu buscava dinheiro.”
Após deixar The Noite em 2023, Juliana afirmou que se reuniu com os diretores da emissora para que pudesse ser protegida, já que passou a participar de outros programas da casa. “Quando saí do The Noite, precisei que a empresa soubesse para me proteger. Foi a partir daí que começaram as reuniões. Acreditava que me protegeriam, mas o compliance nunca foi finalizado e acabei sendo demitida.”
Por fim, Juliana reiterou que tanto Danilo quanto a direção estavam cientes do seu desconforto em relação a Otávio Mesquita entre 2016 e 2020. “Quando Otávio invadiu o estúdio, eu estava escondida no banheiro. O que eles não sabiam era a gravidade da situação, nem eu.”
Investigação
A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar a denúncia de estupro feita por Juliana Oliveira, ex-assistente de palco do The Noite, contra Otávio Mesquita. A investigação foi instaurada a pedido do Ministério Público e está sendo conduzida pelo 7º Distrito Policial de Osasco, onde está localizada a sede do SBT.
Juliana refutou a afirmação de Mesquita de que a cena foi combinada. “Ele disse que aquilo foi uma brincadeira combinada. Com quem, Otávio Mesquita? Com quem você combinou aquilo? Não foi uma brincadeira, foi uma violência. É evidente meu desconforto no vídeo.”
Ela também revelou que hesitou em denunciar Mesquita por medo de perder o emprego e que, durante a presença do apresentador no estúdio, a produção a trancava no banheiro. “Eu era mantida trancada como se eu fosse a errada. Como se eu fosse a culpada. Passei anos assim.”
“Fiz uma denúncia para uma empresa liderada por mulheres e elas nem sequer me ouviram. Todo o ódio que recebi online, perguntando por que não tomei uma atitude, eu tomei. Segui todos os procedimentos. Nunca quis que isso viesse à tona. Procurei a Justiça porque o SBT não tomou nenhuma atitude”, declarou Juliana.
Otávio Mesquita afirmou que está acompanhando a situação com “atenção e seriedade”. “Este é um momento delicado que exige respeito, responsabilidade e escuta verdadeira. Estou lidando com a situação com o apoio da minha equipe jurídica e estou absolutamente comprometido em esclarecer todos os fatos com seriedade e transparência. Confio na Justiça”, disse em nota.
O SBT afirmou, por meio de uma declaração, que tomou “todas as providências necessárias”. “Em relação ao episódio envolvendo a Sra. Juliana Oliveira e o apresentador Otávio Mesquita, o SBT esclarece que adotou, em tempo hábil, todas as medidas pertinentes através do seu Departamento de Governança Corporativa.”
A cena que gerou a controvérsia foi exibida em 2016. Em declaração ao Splash, Hédio Silva, advogado de Juliana, afirmou que a ex-assistente de palco foi sujeita a atos libidinosos sem consentimento. Ele destacou que a jurisprudência atual reconhece que “a prática de atos libidinosos configura estupro”, mesmo na ausência de penetração. “A lei foi reformulada em 2009, e o judiciário tem reconhecido o estupro mesmo quando a pessoa não toca na vítima, por exemplo.”
No programa disponível no YouTube, é possível observar Juliana sendo tocada nos seios após a entrada de Otávio Mesquita, que aparece no palco de ponta-cabeça, pendurado por um cabo de aço. Em seguida, enquanto Juliana tenta remover os equipamentos de segurança do apresentador, ele a segura e simula movimentos sexuais.
“Quando vi o vídeo, fiquei chocado. Como alguém consegue gravar algo assim? É um sentimento de impunidade. Ele aproxima suas partes íntimas da boca dela, a empurra para o sofá… Quase quatro minutos de agressão. Ela reage, dá tapas, chuta, protesta. Depois, Danilo Gentili a chama de volta para o palco, e ela retorna constrangida. Ela saiu com a clara noção de que foi violentada, mas não compreendia a gravidade. Quando me contratou, analisei o material e disse: ‘Isso foi estupro, tudo gravado’. Ele ainda admite no final, referindo-se aos seios de Juliana como ‘durinhos’. É uma violência sem precedentes”, afirmou Hédio Silva.
O advogado de Juliana ressaltou que cada pessoa tem seu próprio tempo para denunciar, algo reconhecido pelas cortes de Justiça, e que Juliana tentou buscar apoio do SBT, mas sem sucesso. “No último trimestre de 2024, ela levou a questão à emissora, mas não obteve a resposta que esperava. Isso afeta a saúde mental da pessoa. Além disso, há o componente racial, a ideia de que o corpo da mulher é público.”
O advogado também alegou que a entrada de Mesquita foi planejada e que Juliana deveria auxiliá-lo, mas sem que ele a tocasse. “Ele apalpa as nádegas, os seios e simula o ato. Nos primeiros segundos, ela revida com tapas e chutes. Quando retorna ao palco, sua expressão é de insatisfação. Danilo Gentili chega a comentar que ‘a Ju está com cara de quem não está gostando, mas ela gosta’.”