Reconhecidas por sua inteligência e natureza intrigante, as sépias foram observadas utilizando seus braços para se comunicar, o que sugere uma nova forma de interação multimodal que combina visão e tato. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Itália, por meio de vídeos e análise de vibrações na água, identificaram quatro padrões distintos de movimento dos braços desses moluscos. O estudo, que ainda aguarda revisão por pares, foi divulgado em versão pré-print no bioRxiv na última segunda-feira (5/5).
As sépias, também conhecidas como chocos, possuem uma impressionante capacidade cognitiva. Esses animais demonstram um nível elevado de inteligência, sendo capazes de realizar testes cognitivos projetados para humanos, exercitar autocontrole e manter memórias longas e precisas. Com essa habilidade cerebral notável, a forma como se comunicam revela-se igualmente complexa.
Até o momento, já se sabia que as sépias se comunicavam por meio de mudanças de cor, utilização de luz polarizada, sinais químicos e percepção de vibrações aquáticas. Com oito braços e dois tentáculos na parte frontal do corpo, esses moluscos são altamente ágeis, empregando suas habilidades para nadar e caçar.
“Além das impressionantes e bem documentadas mudanças visuais que podem ocorrer no manto, as sépias têm a capacidade de criar diversas configurações corporais que combinam padrões de cor, posturas e movimentos, tanto para camuflagem quanto para comunicação”, afirmaram os autores do artigo.
O experimento foi conduzido com duas espécies: Sepia officinalis (choco comum) e Sepia bandensis (choco anão). Os ovos foram coletados nos oceanos Atlântico e Indo-Pacífico, incubados e criados em ambiente de laboratório.
Durante a pesquisa, os neurocientistas Sophie Cohen-Bodénès, da Universidade de Washington, e Peter Neri, do Instituto Italiano de Tecnologia, identificaram quatro sinais de comunicação dos braços: para cima, para o lado, em rolo (braços rolando sob a cabeça) e em coroa (dispostos em padrão simétrico).
Para investigar se os cefalópodes realmente utilizam os braços como forma de comunicação, os pesquisadores gravaram vídeos das sépias em seus tanques, capturando sinais espontâneos e, em seguida, reproduziram as filmagens de cabeça para baixo e de pé. Os animais mostraram-se mais reativos às gravações de cabeça para cima, chegando a retribuir os gestos em algumas situações. Em testes com vibrações na água, também houve momentos em que acenaram de volta. As mudanças de cor frequentemente acompanhavam esses gestos.
Ainda não está claro o que os acenos significam, pois não parecem estar relacionados a dominância ou vínculos afetivos. Eles podem estar associados a defesa, caça ou até mesmo a expressões de humor.
“Com base nas observações, acreditamos que a interpretação mais coerente é que esses sinais possuem uma variedade de significados e funções, dependendo do contexto comportamental em que estão inseridos”, relatam os neurocientistas no estudo.
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