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Antigo comandante da Aeronáutica revela encontros sobre GLO: “Senti-me desconfortável”

Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, confirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) sua participação em reuniões que discutiram a implementação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Durante a audiência, ao ser questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre sua presença no Palácio da Alvorada após o segundo turno das eleições de 2022, Baptista Júnior recordou que esteve no local em pelo menos cinco ocasiões: nos dias 1, 2, 14, 22 e 24 de novembro, sempre acompanhado e nunca a sós com Bolsonaro.

Quando indagado se Bolsonaro expressou dúvidas sobre o resultado das eleições, o ex-comandante esclareceu que, ao longo do período eleitoral, as Forças Armadas estavam analisando a situação do país, percebendo uma sociedade polarizada. “Nós sempre consideramos a possibilidade de GLO após o dia 31 de dezembro de 2022”, detalhou.

Na reunião de 1º de novembro, Baptista Júnior mencionou que o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio, e três comandantes, além de Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União, estavam presentes. “Discutimos todos os resultados das urnas e não encontramos nenhum risco ou problema. O presidente indagou a Bruno Bianco sobre possíveis soluções jurídicas, e a resposta foi negativa”, relatou.

Ele continuou, informando que na reunião do dia 2 de novembro, no sofá da biblioteca, com o ministro da Defesa e três comandantes, notou que o presidente estava frustrado e parecia deprimido com o resultado. “O tema da GLO começou a surgir nas reuniões seguintes, mas o foco inicial era a entrega do relatório. A partir do dia 11, percebi que a GLO que discutíamos não se assemelhava ao que as Forças Armadas costumam realizar desde 1992, e isso começou a nos deixar desconfortáveis. Eu, Paulo Sérgio e Freire Gomes, pelo menos”, explicou ao procurador.

O ex-comandante da FAB também mencionou que sugeriu a Bolsonaro a convocação de outros membros do governo em caso de crises institucionais, quando o próprio presidente citou o nome do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. “A partir do dia 11, a incerteza sobre a GLO, se seria para caminhoneiros, manifestantes ou outros fins, nos deixou inquietos”, recordou.

Baptista Júnior contradisse a versão do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmando que o então chefe do Exército chegou a ordenar a prisão de Bolsonaro caso um plano de golpe de Estado fosse colocado em prática. Ao ser perguntado por Gonet, Baptista Júnior confirmou que Freire Gomes teria dado a ordem de prisão a Bolsonaro em caso de continuidade da tentativa golpista.

“Sim, confirmo. O General Freire Gomes é uma pessoa educada e cortês, e não usou um tom agressivo, mas deixou claro: ‘Se o senhor fizer isso, terei que te prender'”, disse o ex-comandante da Aeronáutica.

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