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“Vinte anos para encontrar um novo significado”, revela médico que sofreu abuso na infância

O médico Volnei Tavares, que enfrentou a violência sexual durante sua infância, compartilha que somente na fase adulta conseguiu compreender a profundidade de suas experiências e começou a confrontar as cicatrizes deixadas por essas agressões. “Minhas primeiras lembranças traumáticas datam dos 5 anos. Foi aos 21 que comecei a entender o que realmente havia ocorrido, e talvez tenha levado mais uma década para conseguir reinterpretar e trabalhar as amarras que isso trouxe para minha vida. Foi um longo processo”, confessa.

Ele ressalta que o medo é um dos principais obstáculos que impede muitas vítimas de denunciarem seus agressores. “No meu caso, os abusadores eram pessoas próximas da família, que usavam ameaças e a vergonha para calar. Eu ouvia ofensas como ‘veadinho’, sem nem compreender o que significava. Conviver com os agressores, somado à imaturidade emocional, torna extremamente difícil para as vítimas reconhecerem o que ocorreu.”

Volnei encontrou uma forma de ressignificar sua trajetória através do livro “O primeiro estupro – a morte de minha alma”, escrito sob o pseudônimo Joaquim Manoel. A obra visa sensibilizar os leitores e estimular uma reflexão sobre a causa. Ela expõe as diversas formas de violência e negligência que ele enfrentou na infância e adolescência. Por meio da escrita e de atividades voluntárias, os traumas foram transformados, e hoje uma de suas maiores alegrias é ajudar a mudar a vida de outras pessoas.

“Reencontro aqueles que já cuidei e muitos conseguiram superar situações de abandono e violência sexual. Quando me veem como um exemplo, isso dá um novo significado ao que passei. Não sinto vergonha por ter sido vítima; na verdade, quem deveria ter vergonha são aqueles que perpetuam o mal.”

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