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A Objetividade das Cores: Por que seu verde pode diferir do meu

*Este artigo é uma contribuição dos professores de filosofia Elay Shech e Michael Watkins, da Auburn University, e foi publicado na plataforma The Conversation Brasil.

Você já se perguntou se o verde que você vê é o mesmo verde que eu vejo? A resposta, provavelmente, é não. O que para mim pode parecer um verde puro, para você pode ter nuances amareladas ou azuladas. Essa diferença na percepção ocorre devido à diversidade dos sistemas visuais entre os indivíduos. Além disso, a forma como a cor de um objeto aparece pode ser influenciada pelo fundo em que se encontra ou pela iluminação na qual é observado.

Essas considerações podem levar à conclusão de que as cores são subjetivas. Ao contrário de propriedades como comprimento ou temperatura, que são objetivas, poderíamos pensar que as cores não têm uma essência verdadeira e são relativas ao observador e seu contexto.

Entretanto, essa ideia de variação perceptual é um equívoco. Como filósofos que investigam a natureza das cores, a objetividade e a ciência, defendemos, em nosso livro “A Metafísica das Cores”, que as cores são tão objetivas quanto medidas de comprimento e temperatura.

A percepção do mundo varia consideravelmente entre as pessoas. Por exemplo, se você apresentar um espectro de cores que vai do verde-limão ao roxo e pedir a um grupo para identificar a amostra que representar o verde puro – sem qualquer tom de amarelo ou azul – as respostas serão bastante variadas. É improvável que a maioria concorde sobre qual amostra é a verdadeira “verde”.

Ademais, o fundo sobre o qual um objeto é visto pode alterar drasticamente sua aparência. Um objeto cinza, por exemplo, pode parecer mais escuro em um fundo claro do que em um fundo escuro. Essa mudança na percepção se torna ainda mais evidente com diferentes condições de iluminação, onde uma maçã vermelha pode, sob algumas luzes, parecer verde ou azul.

É importante destacar que a experiência subjetiva de um objeto não nega sua objetividade. A água que parece fria para uma pessoa pode não ter a mesma sensação para outra, mas isso não altera a temperatura real da água. Assim, a percepção de cor pode variar, mas isso não significa que a cor em si não seja objetiva. Você pode fazer uma maçã parecer verde ou azul, mas isso não prova que ela não seja vermelha.

Para ilustrar, a Lua parece maior quando está próxima do horizonte do que quando está alta no céu, mas seu tamanho real não muda; apenas sua aparência altera. Portanto, a variação na aparência de cor ou tamanho não implica que essas características não sejam objetivas. As propriedades de um objeto são independentes das percepções individuais.

Diante de tanta variação na aparência das cores, como podemos determinar a cor de um objeto de maneira objetiva? Uma abordagem é considerar se ele é vermelho ou azul, mas sugerimos uma perspectiva diferente.

É comum pensar que, para provar a objetividade das cores, precisaríamos identificar quais condições de visualização e quais observadores são os “corretos”. No entanto, não é necessário determinar isso para identificar a cor específica de um objeto ou para verificar se dois objetos têm a mesma cor.

Para isso, um observador deve ver os objetos lado a lado, sob o mesmo fundo e em diversas condições de iluminação. Por exemplo, ao pintar um ambiente e descobrir que a tinta disponível não é suficiente, encontrar uma correspondência exata pode ser desafiador. Para que a nova tinta corresponda à antiga, nenhuma condição de iluminação deve permitir que um observador perceba diferenças.

O fato de duas pessoas serem capazes de verificar se dois objetos têm a mesma cor, mesmo sem concordarem sobre o que define essa cor, sugere que as cores são características objetivas do nosso mundo. Nossas interações diárias com as cores – como ao escolher amostras de tinta, combinar roupas ou interpretar obras de arte – seriam difíceis de explicar se as cores não fossem objetivas.

Ao olharmos para a ciência, as várias formas como os pesquisadores compreendem as cores reforçam essa ideia. Por exemplo, as leis científicas que explicam a interação entre objetos e luz ajudam a entender como percebemos as cores. Essas leis preveem, por exemplo, como misturar pigmentos coloridos pode alterar a percepção ou como a visão de cores contrastantes varia.

Os filósofos Hilary Putnam e Willard van Orman Quine popularizaram o que é chamado de argumento da indispensabilidade. A premissa central é que, se algo é essencial para a ciência, então deve ser real e objetivo; caso contrário, a ciência não funcionaria como funciona. Assim, enquanto questionamos a existência de entidades não observáveis como elétrons, o argumento sugere que elas devem existir, pois são fundamentais para as melhores explicações científicas.

De maneira semelhante, acreditamos que a cor desempenha um papel crucial na biologia evolutiva. Pesquisadores apontaram que o aposematismo – o uso de cores para advertir predadores sobre perigos – não só beneficia a sobrevivência do animal, mas também sua capacidade de obter recursos. A coloração de um animal, portanto, é funcional pois informa predadores em potencial sobre sua toxicidade.

Além disso, algumas espécies, como certos peixes-donzela, utilizam padrões de cor ultravioleta que os ajudam a se comunicar entre si e a evitar predadores que não conseguem perceber essas cores.

Em resumo, nossa habilidade de discernir se os objetos possuem cores semelhantes ou distintas, além dos papéis essenciais que as cores desempenham na ciência, indicam que as cores são tão reais e objetivas quanto medidas de comprimento e temperatura.

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