De acordo com o Censo Demográfico de 2022, mais de 60% dos quilombolas no Brasil habitam zonas rurais, enfrentando, tanto no campo quanto nas cidades, condições precárias de acesso a serviços essenciais. Este estudo, que pela primeira vez analisou detalhadamente a vida nas comunidades quilombolas, apresenta dados alarmantes: aproximadamente 75,21% das residências quilombolas em áreas rurais lidam com ao menos uma das três principais carências de infraestrutura — fornecimento adequado de água, sistema de esgoto e coleta de lixo. Além disso, quase 20% desses lares (19,3%) sofrem com a falta simultânea das três estruturas, um índice quase oito vezes superior à média nacional, que é de 2,56%.
Nas áreas urbanas, a situação também é preocupante, com 50,91% das habitações quilombolas enfrentando pelo menos uma dessas carências, um número quase três vezes maior do que o verificado entre a população urbana em geral, que é de 17,44%. A escassez de serviços básicos também impacta outras desigualdades estruturais, como o acesso à educação. O Censo apontou que 18,99% dos quilombolas com 15 anos ou mais são analfabetos, um índice mais que dobrado em relação à média nacional, que é de 7%.
A disparidade entre áreas rurais e urbanas é notável: nas zonas rurais, a taxa de analfabetismo chega a 22,71%, enquanto nas urbanas é de 13,28%. Embora as mulheres quilombolas apresentem, em média, índices de analfabetismo mais baixos que os homens, ainda enfrentam uma realidade de desigualdade, especialmente fora dos territórios oficialmente reconhecidos.
O Censo também identificou 1.330.186 indivíduos que se autodeclaram quilombolas, o que representa 0,66% da população total do Brasil, distribuídos por 1.696 municípios em 24 estados e no Distrito Federal. Desses, 63,26% residem em áreas rurais e 36,74% em ambientes urbanos. A maior concentração dessa população está no Nordeste (66,65%), com destaque para os estados da Bahia e Maranhão, onde a Bahia lidera com 397.059 pessoas (29,9% do total) e o Maranhão segue com 269.074 (20,26%), somando quase metade da população quilombola do país.
Conforme dados do IBGE, existem 5.972 localidades quilombolas mapeadas, embora a maioria das pessoas viva fora de áreas oficialmente reconhecidas como quilombolas.