Um grupo de pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, publicou um estudo que sugere que a taurina, um aditivo comumente encontrado em bebidas energéticas, pode servir como um combustível significativo para o desenvolvimento de certos tipos de câncer, como a leucemia. Os resultados foram divulgados em 14 de maio na revista Nature, uma das mais respeitadas no campo científico.
Os autores da pesquisa indicam que os cânceres mieloides, incluindo a leucemia, utilizam a taurina disponível na medula óssea como uma fonte de energia para se proliferar. Os efeitos desse aminoácido nas células leucêmicas são comparáveis à sensação de energia extra que se sente após consumir uma bebida energética.
A taurina é um aminoácido que o corpo humano produz naturalmente e pode ser encontrada também em alimentos como peixe e carne vermelha. Ela desempenha funções importantes, como ação antioxidante, regulação do sistema cardiovascular, manutenção do equilíbrio eletrolítico e suporte aos sistemas nervoso e imunológico, além de contribuir para a produção de energia. No entanto, o novo estudo revela que essa substância também pode alimentar células cancerosas.
A pesquisa foi conduzida em modelos com camundongos e demonstrou que, ao bloquear o acesso das células leucêmicas à taurina, o crescimento tumoral foi reduzido. O mesmo efeito foi observado quando células cancerígenas de humanos ou de outros camundongos foram transplantadas em animais que estavam com o acesso à taurina restrito. Esses resultados sugerem que limitar a disponibilidade de taurina para as células cancerosas pode ser uma estratégia útil no tratamento da doença. “Altos níveis de taurina na medula óssea podem estimular a progressão da leucemia, o que nos leva a recomendar cautela no uso de suplementos de taurina em doses elevadas”, afirma Jane Liesveld, oncologista e uma das autoras do estudo.
Embora a descoberta seja alarmante, os cientistas ressaltam que ainda não há provas diretas de que o consumo de bebidas energéticas cause leucemia, mas recomendam um uso consciente da taurina. Estudos anteriores mostraram que o aminoácido pode ter efeitos benéficos em outros tipos de câncer, como o gástrico, onde pode auxiliar o sistema imunológico a combater células malignas, o que demonstra que a ação da taurina pode variar conforme o tipo de câncer e seu local de atuação no organismo.
Jane Liesveld explica que, para sobreviver, as células cancerígenas reprogramam seu metabolismo. As novas descobertas sobre a ação da taurina nas células leucêmicas oferecem aos cientistas uma nova abordagem para o tratamento do câncer. “O foco inicial estava nas alterações genéticas, mas agora estamos ampliando nossa compreensão sobre como as células leucêmicas sequestram diversas vias metabólicas para garantir sua sobrevivência”, relata.
Os pesquisadores estão agora empenhados em investigar como as células cancerosas utilizam nutrientes do corpo para seu crescimento. A estratégia de bloquear o “combustível” do câncer, como a taurina, abre um caminho promissor para novas opções de tratamento.
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