*Este artigo foi escrito pela professora de farmácia Dipa Kamdar, da Kingston University, no Reino Unido, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.
Quando alguém menciona a importância de “limpar o prato”, os ossos normalmente não são considerados. No entanto, para muitos, o que se encontra dentro deles é a verdadeira estrela da refeição. O caldo de ossos, que antes era visto como um item simples na cozinha, conquistou destaque recentemente, sendo promovido como um superalimento por diversas celebridades e influenciadores de estilo de vida saudável.
Personalidades como Salma Hayek e Gwyneth Paltrow são conhecidas por incorporá-lo em suas rotinas de beleza e saúde, enquanto o ícone do basquete Kobe Bryant o incluía em sua dieta antes das partidas. Contudo, o caldo de ossos não é uma novidade; suas raízes se estendem até a culinária pré-histórica, passando pela medicina tradicional chinesa e remédios populares em várias culturas.
Mas afinal, o que é o caldo de ossos e será que ele realmente merece o reconhecimento que recebe?
Esse líquido nutritivo é obtido pela fervura lenta de ossos de animais e tecidos conectivos, como cartilagem e tendões, por um período que pode variar de 12 a 48 horas. Esse longo cozimento extrai nutrientes como colágeno, aminoácidos e minerais, resultando em um caldo denso e saboroso, que pode ser consumido sozinho ou utilizado como base para sopas, molhos e ensopados.
Embora os caldos de ossos industrializados sejam práticos, as versões caseiras oferecem um controle maior sobre os ingredientes e, frequentemente, um valor nutricional superior. Os componentes básicos geralmente incluem ossos (de frango, carne bovina ou peixe), água, vinagre (que ajuda a liberar os minerais) e uma variedade de ervas e vegetais para aprimorar o sabor.
Este caldo é conhecido por seu alto teor de colágeno, uma proteína essencial para a constituição do tecido conjuntivo presente na pele, cartilagem, tendões e ossos. Acredita-se que ele favoreça a flexibilidade das articulações e ajude a atenuar os sinais de envelhecimento da pele.
Alguns estudos indicam que o colágeno hidrolisado (uma forma mais fragmentada e, portanto, mais fácil de absorver) pode melhorar a elasticidade e a hidratação da pele, além de reduzir rugas. Outras pesquisas sugerem que ele pode aliviar dores e rigidez nas articulações, especialmente em pessoas que sofrem de osteoartrite.
No entanto, a maioria das investigações se concentra em suplementos de colágeno, e embora o caldo de ossos seja frequentemente promovido como uma rica fonte dessa proteína, as evidências científicas mostram que ele não contém colágeno suficiente para proporcionar os mesmos efeitos observados em estudos sobre suplementos. Uma dieta equilibrada, que inclua proteínas, vitamina C e gorduras saudáveis, está mais diretamente relacionada à produção de colágeno.
Além disso, o caldo de ossos é rico em aminoácidos, como glutamina, glicina e arginina, que são considerados benéficos para a saúde intestinal e o sistema imunológico. A glutamina, em particular, pode auxiliar na reparação da parede intestinal e na prevenção do “intestino permeável” – condição que permite que toxinas e bactérias transitem por uma barreira intestinal comprometida, potencialmente desencadeando inflamações.
Alguns pesquisadores até propõem conexões entre a saúde intestinal e distúrbios como autismo, TDAH, depressão e esquizofrenia, embora essa área ainda seja controversa e careça de mais investigações.
O caldo de ossos é baixo em calorias, mas rico em proteínas, tornando-se um alimento valioso para quem busca controlar o peso. Além disso, ele é hidratante e fornece eletrólitos como sódio, potássio e magnésio, que são especialmente úteis em períodos de doença ou durante a recuperação.
Embora haja alguma evidência que sugira que os nutrientes presentes no caldo de ossos, especialmente os aminoácidos, possam reduzir a inflamação e apoiar o sistema imunológico, as pesquisas sobre os benefícios diretos do seu consumo são limitadas. Contudo, é importante estar ciente de potenciais riscos antes de incorporá-lo à sua dieta.
Os ossos de animais podem acumular metais pesados, como o chumbo, e o cozimento prolongado pode resultar na liberação desses metais no caldo. Os estudos sobre o tema apresentam resultados variados, e o risco pode depender da origem e da qualidade dos ossos utilizados.
O consumo de caldo de ossos com altos níveis de metais pesados pode acarretar problemas à saúde, desde sintomas leves, como dores de cabeça e fadiga, até danos aos órgãos a longo prazo. Pesquisas sobre a presença de contaminantes em caldos de ossos têm mostrado resultados mistos. Como as receitas variam, é desafiador determinar o valor nutricional exato de cada caldo. Muitos produtos industrializados também contêm altos níveis de sódio, o que pode elevar a pressão arterial e sobrecarregar o coração e os rins. É recomendável conferir os rótulos ou preparar seu próprio caldo para garantir um controle sobre o teor de sal.
Vale mencionar que o caldo de ossos contém glutamato, um aminoácido que pode provocar ansiedade, inquietação ou dores de cabeça em algumas pessoas, embora as evidências nesse sentido sejam predominantemente anedóticas.
Um armazenamento ou preparo inadequado do caldo pode resultar em contaminação bacteriana, levando a infecções intestinais e sintomas como vômito e diarreia. Por isso, é fundamental refrigerar ou congelar o caldo prontamente e reaquecer completamente antes do consumo.
O caldo de ossos pode ser uma adição nutritiva e saborosa à sua alimentação, especialmente quando feito em casa com ingredientes de alta qualidade. Ele é hidratante, rico em proteínas e saboroso. Contudo, não se deve esperar que ele seja uma solução mágica, e seus benefícios à saúde podem ser mais modestos do que se imagina.
Para aumentar a produção de colágeno, uma dieta equilibrada é a melhor estratégia. Foque em consumir boas fontes de proteína, grãos integrais, frutas e vegetais – todos cruciais para fornecer os nutrientes necessários para que seu corpo produza colágeno de forma natural.
Ademais, hábitos saudáveis de vida são fundamentais. Dê prioridade a um sono de qualidade (entre sete e nove horas por noite), controle o estresse, evite fumar e proteja sua pele com protetor solar.
Embora o caldo de ossos possa trazer alguns benefícios, as evidências científicas que respaldam seu papel na produção de colágeno ainda são limitadas. Considere-o como um complemento nutritivo para um estilo de vida saudável, e não como uma solução universal.
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