O Hospital Sarah, localizado em Brasília, sedia de hoje até a próxima sexta-feira (9/5) o 1º Congresso Latino-Americano da Federação Mundial de Neurorreabilitação (WFNR). Um dos destaques do evento é Lúcia Willadino Braga, presidente do Sarah, que também coordena a programação científica do congresso.
Durante a abertura, Lúcia compartilhou casos significativos tratados em Brasília que contribuíram para o avanço da neurociência mundial, incluindo o do cantor Hebert Vianna. “Brasília é um centro de neurociência, e nosso objetivo era aproveitar a posição de destaque da cidade para realizar este evento regional pela primeira vez”, declarou a médica em uma entrevista exclusiva ao Metrópoles após sua apresentação ao público.
Ela ressaltou a relevância de sediar um evento desse porte, o primeiro da WFNR na região do hemisfério sul. “Brasília é um modelo. Recebemos estudantes dos Estados Unidos e da Holanda que vêm aqui para aprimorar sua formação no Sarah. Um congresso como este é uma chance para continuarmos à frente na neurociência. Temos a oportunidade de atrair o mundo para cá, representando a América Latina, e isso é valioso. Pesquisadores de todos os continentes estão aqui para compartilhar conhecimento. Cérebros criam saber em todos os lugares, e aqui estão todos reunidos”, celebrou.
Lúcia também apresentou uma série de casos tratados no Sarah ao longo dos anos, que ilustram como o cérebro pode se adaptar e recuperar-se de lesões severas. O cantor Herbert Vianna, internado no Sarah após um trágico acidente de ultraleve em fevereiro de 2001 que resultou na morte de sua esposa, Lucy, além de causar danos à sua medula e cérebro, foi um desses casos.
“Ele enfrentou muitos desafios de memória inicialmente. Para avaliar a capacidade de recuperação do cérebro, utilizamos seu talento para o ritmo, que se manteve intacto. Pedimos que ele cantasse e ele escolheu uma canção que havia escrito para Lucy, ‘Se eu não te amasse tanto assim’. Ele a canta para nós há 24 anos durante as ressonâncias”, compartilha Lúcia.
Para ela, a trajetória de Herbert demonstra como um olhar humano, que reconhece as habilidades do paciente, pode personalizar o tratamento e torná-lo mais eficaz. “O caso de Herbert nos lembra da importância do componente humano na reabilitação”, afirma.
A médica observa que, ao analisar a evolução de Herbert, também se nota a capacidade do cérebro de se adaptar quando é adequadamente estimulado após uma lesão grave. “Comparando os primeiros e os últimos exames dele ao longo de 20 anos, é evidente como as redes neuronais se reestruturar e continuam a progredir, mesmo em um homem de 60 anos. Muitas pessoas acreditam que o envelhecimento implica perda de habilidades cerebrais, mas casos como o de Herbert desafiam essa crença”, comenta Lúcia.
Além do exemplo de Herbert Vianna, a médica também compartilhou outras histórias de pacientes que foram tratados por longos períodos no Sarah e alcançaram recuperações notáveis. Um exemplo é o de uma jovem que sofreu um AVC aos 11 anos e continua sendo acompanhada, mesmo uma década após o acidente. A lesão afetou a área do cérebro responsável pela linguagem, o fascículo arqueado esquerdo.
Após anos de terapia intensiva em linguagem, a menina não apenas recuperou parte de sua capacidade comunicativa, mas também houve um desenvolvimento notável da mesma região no hemisfério direito do cérebro, geralmente menos desenvolvido. “Isso evidencia a habilidade do cérebro em se adaptar, especialmente em pacientes jovens”, conclui Lúcia.
A presidente do Hospital Sarah também destacou o caso de Handrew Gomes, que hoje tem 21 anos e nasceu com uma malformação cerebral que afetou principalmente sua capacidade de linguagem e habilidades matemáticas. “Havia quem dissesse que ele não sobreviveria ou teria um desenvolvimento cerebral limitado. Mas um dia o vimos tocando pandeiro e percebemos seu talento. Em vez de nos concentrarmos no que ele não podia fazer, decidimos valorizar suas muitas habilidades. Handrew possui um ritmo excepcional e uma notável capacidade de adaptação”, explica Lúcia.
A médica relata que Handrew conseguiu aprimorar suas habilidades comunicativas através da neurorreabilitação, aprendendo a ler e escrever. Além disso, mesmo sem as áreas do cérebro normalmente associadas ao raciocínio matemático, ele desenvolveu um método próprio para realizar cálculos. “Ele sempre buscou estratégias para superar obstáculos e resolver problemas. Hoje, é um jovem que trabalha, mora sozinho e é músico. Quando focamos nos potenciais, no que é possível, alcançamos progressos que nos enchem de orgulho”, finaliza a médica.
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