Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Cérebro e Doenças VIB-KU Leuven, localizado na Bélgica, criaram um modelo que consegue prever com precisão a idade em que indivíduos com predisposição genética para Alzheimer começarão a manifestar os primeiros sintomas. O estudo, divulgado em 26 de abril na revista Molecular Neurodegeneration, concentra-se em uma variante rara da doença: o Alzheimer familiar.
Esse tipo hereditário da enfermidade, que representa uma fração reduzida dos casos, é resultante de mutações nos genes APP, PSEN1 e PSEN2. Embora essas alterações genéticas sejam conhecidas, ainda existiam muitas incertezas sobre como elas afetam o início e a evolução da doença.
A equipe de pesquisa examinou diversas mutações nesses três genes e estabeleceu uma relação clara entre algumas delas e a idade em que os primeiros sinais costumam surgir. De acordo com os cientistas, essas mutações funcionam como verdadeiros relógios biológicos, indicando com considerável precisão quando o cérebro começará a ser impactado.
“Conseguimos mensurar a contribuição exata de cada gene e até prever quando os primeiros sintomas irão surgir”, comentou Sara Gutiérrez Fernández, principal autora do estudo, em um comunicado.
Essas previsões foram viáveis porque as mutações afetam a produção dos peptídeos Aβ (amiloide beta), fragmentos proteicos que se acumulam no cérebro e formam placas, uma das características marcantes do Alzheimer. Quanto maior a proporção de peptídeos Aβ longos em relação aos curtos, mais cedo a condição tende a se manifestar.
O Alzheimer é uma doença degenerativa que resulta na morte de células cerebrais e pode se desenvolver décadas antes do aparecimento dos primeiros sinais. Dada a natureza progressiva da doença, um diagnóstico precoce é crucial para retardar seu avanço. Portanto, ao notar qualquer sintoma, é essencial buscar a orientação de um especialista.
Embora os sintomas sejam mais frequentes em indivíduos acima de 70 anos, também não é raro que apareçam em pessoas na faixa dos 30 anos. Nesses casos, a condição é chamada de Alzheimer precoce.
Nos estágios iniciais, uma pessoa com Alzheimer pode apresentar problemas de memória, esquecendo de detalhes simples, como onde deixou as chaves ou o que comeu no café da manhã, e até mesmo o nome de alguém ou a estação do ano. Além disso, sinais de desorientação, dificuldade em lembrar do próprio endereço ou do caminho para casa, e problemas para tomar decisões simples são comuns.
Outros sintomas frequentes incluem a perda do interesse por atividades cotidianas, mudanças de comportamento (como aumento da irritabilidade ou agressividade) e repetição de perguntas ou histórias.
Pesquisas da Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF) indicam que a presença de proteínas danificadas (Amiloide e Tau), problemas vasculares, neuroinflamação, falhas de energia neural e fatores genéticos (como o gene APOE) podem contribuir para o desenvolvimento da doença.
O tratamento do Alzheimer envolve o uso de medicamentos para amenizar os sintomas, além da necessidade de fisioterapia e estimulação cognitiva. Não existe cura, e o cuidado deve ser contínuo ao longo da vida.
A produção dos peptídeos é regulada por uma enzima chamada γ-secretase. O estudo revelou que pequenas alterações nesse processo podem ter um impacto considerável. Dados indicam que uma modificação de apenas 12% no perfil dos fragmentos pode adiar o início dos sintomas em até cinco anos.
Essa descoberta abre novas possibilidades para terapias que possam modular a ação da γ-secretase, promovendo a produção de formas mais curtas e menos tóxicas dos peptídeos Aβ.
Além de aprofundar a compreensão sobre o desenvolvimento da doença, os cientistas criaram uma ferramenta que avalia o risco de uma mutação levar ao Alzheimer familiar. Essa ferramenta também possibilita identificar indivíduos que possuem modificadores genéticos ou que foram expostos a fatores ambientais que possam influenciar a idade de manifestação dos sintomas.
Com essas inovações, espera-se que médicos consigam, no futuro, desenvolver estratégias personalizadas para diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pessoas com risco genético.
“Nosso objetivo é que esse modelo abra portas para intervenções mais eficazes, tanto no Alzheimer familiar quanto nas formas mais prevalentes da doença”, conclui Sara.
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