“Jurassic World – Recomeço” parte da premissa de que o público já está saturado de dinossauros. O que antes era um espetáculo científico e uma fonte de emoção, quando a clonagem trouxe essas criaturas de volta à vida, agora se resume a um grupo de répteis envelhecidos e doentes, espalhados pelo mundo, despertando apenas pena e causando transtornos no dia a dia.
Embora os números das bilheteiras possam indicar que o interesse ainda existe — com os três filmes mais recentes arrecadando mais de US$ 1 bilhão cada —, a nova entrega da franquia se esforça para que o principal desejo do público seja a completa extinção dos dinossauros. Embora nenhuma das produções anteriores tenha sido um exemplo de inovação, este “Recomeço” se arrasta para o fundo do poço.
Aqui, não há vestígios do encantamento presente no filme original. Também faltam aventura e suspense. O elenco, que inclui Scarlett Johansson no papel principal, não consegue dar vida a seus personagens. Em meio a absurdos e situações ridículas, o resultado é um produto sem alma, um fracasso criativo que provavelmente será lembrado ao lado de “Batman & Robin” e “Star Wars: A Ascensão Skywalker” como uma das maiores decepções do cinema contemporâneo.
A narrativa de “Jurassic World – Recomeço”, embora não se conecte diretamente a seus antecessores, é impulsionada pela mesma ganância corporativa. Martin Krebs (Rupert Friend), um representante de um grande conglomerado farmacêutico, junta forças com o paleontólogo Henry Loomis (Jonathan Bailey) para desenvolver um medicamento que pode revolucionar a medicina cardíaca. A chave para essa inovação, no entanto, está no DNA das três maiores espécies de dinossauros.
O problema surge cinco anos após os eventos de “Jurassic World – Domínio”, quando as condições climáticas do planeta, drasticamente alteradas, afetaram os dinossauros. Desde então, essas criaturas foram isoladas em paraísos tropicais, longe da civilização. Um desses locais, que abriga os dinossauros mencionados por Loomis, é uma ilha no Atlântico, onde um laboratório da InGen, agora abandonado e de acesso restrito, foi tomado por esses seres e por mutantes que foram deixados à mercê do tempo.
A mercenária Zora Bennett (Scarlett Johansson) entra em cena, especializada em missões em zonas de conflito. Motivada pela oferta milionária de Krebs, ela reúne sua equipe, liderada por Mahershala Ali, e aceita a missão. A situação se complica quando uma família que navega nas proximidades da ilha — composta por um pai, suas duas filhas e o namorado da filha mais velha — é atacada pelos habitantes marinhos e acaba presa no local. E, como todos sabemos, os dinossauros adoram companhia durante o jantar.
Desde a primeira cena de ação, onde um Mosassauro ataca o barco que transporta Zora e sua equipe, até o clímax no antigo centro de pesquisa da ilha, agora dominado pelo aterrorizante Distortus Rex, “Jurassic World – Recomeço” trava uma batalha sem esperança contra a sombra do filme original. As tentativas de replicar momentos icônicos de “Jurassic Park” são, para dizer o mínimo, constrangedoras.
O problema é que cada novo diretor da franquia parece tentar emular Steven Spielberg. Colin Trevorrow, que se apresentou como um visionário em “Jurassic World” (2015), se mostrou apenas um imitador competente; “Domínio”, que trouxe de volta o elenco original em 2022, flertou com a irrelevância. Em 2018, J.A. Bayona tentou adicionar terror em “Reino Ameaçado”, mas não conseguiu. Pelo menos Joe Johnston soube seu papel como simples operário do cinema em “Jurassic Park III” (2001).
Agora, Gareth Edwards assume a direção. Conhecido por suas produções repletas de efeitos visuais, como “Godzilla” e “Rogue One”, ele enfrentou aqui o desafio do tempo. O roteiro de David Koepp — que escreveu “Jurassic Park” e possui um currículo com altos e baixos — carecia de atenção, algo impossível com o cronograma apertado de produção.
O resultado é um texto descuidado, com falhas evidentes na caracterização dos personagens — todos sem carisma ou empatia — e em sua fluidez narrativa. A mistura de ideias inclui cenas não utilizadas do filme de 1993 e conceitos que são rapidamente esquecidos, como um templo esculpido em pedra e uma ameaça final, o D-Rex, uma criatura que parece mudar de tamanho conforme a conveniência do roteiro.
Para um filme da magnitude de “Jurassic World – Recomeço”, pertencente a uma série que já arrecadou mais de US$ 5 bilhões, é quase um insulto a completa falta de encanto, tensão e emoção. A ausência de respeito pela inteligência do público, que se sente desconectado da trama, é apenas superada pela irritante tentativa de imitar “Jurassic Park” — algo que nem mesmo Spielberg conseguiu em “O Mundo Perdido”.
No entanto, isso não deve afetar a continuidade da série, especialmente porque as crianças ainda amam dinossauros — sejam eles representações das feras extintas ou os monstros mutantes dos filmes modernos. As prateleiras das lojas estão repletas de brinquedos pré-históricos, o que me leva a questionar a necessidade de um “Jurassic World – Recomeço” para promover esses produtos.
Em termos criativos, é evidente que a era dos dinossauros começou e terminou em 1993, quando a magia era palpável e a admiração, genuína. “Jurassic Park” capturou a efemeridade dos grandes fenômenos que, ocasionalmente, transformam o cinema em um espaço de realização de sonhos. E agora? Agora, eu me pego torcendo para que os dinossauros sejam, mais uma vez, considerados extintos. Que venha o meteoro!




