O documentário “Rita Lee: Mania de Você” estreia hoje na MAX, homenageando a trajetória da icônica Rainha do Rock Brasileiro. No entanto, a produção fez uma escolha notável ao incluir apenas referências mínimas a Os Mutantes, a banda que catapultou Rita Lee ao sucesso no final da década de 1960. Embora sejam mencionados ocasionalmente, não há imagens ou um aprofundamento sobre seu impacto. Em contrapartida, o filme apresenta participações da banda Tutti Frutti e de integrantes como Luis Sérgio Carlini e Franklin Paolillo, que representam uma fase distinta da carreira da artista.
Em uma entrevista ao Splash, o diretor Guido Goldberg explicou a decisão de não incluir Os Mutantes. “Acho que, nesse caso, as ausências falam por si. Para mim, a presença deles não altera o que há de interessante na vida de Rita. Mesmo que você remova todas as pessoas que estiveram ao seu lado, o documentário ainda é belo.” Segundo Goldberg, a artista “brilha além das pessoas que a cercam”. “O que temos aqui é um retrato dela. Você pode retirar até metade dos entrevistados e ainda assim obter o mesmo resultado.” Entre os entrevistados, estão figuras como Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Casagrande.
A MAX não respondeu ao Splash sobre o porquê da ausência da banda, mas o texto será atualizado caso haja um retorno.
A importância de Os Mutantes e a saída traumática de Rita
Rita Lee se destacou como vocalista de Os Mutantes, um grupo crucial do Tropicalismo, ao lado de Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. A banda lançou álbuns memoráveis como “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970) e “Jardim Elétrico” (1971), mas a relação conturbada entre Rita e Arnaldo, combinada com diferenças criativas, resultou na saída da artista em 1972.
Em uma entrevista com Bruna Lombardi em 1992, a cantora relembrou a situação. “Teve um final trágico, esquisito e injusto. A verdade é que éramos todos muito intensos. Muita gente surtava.” No livro “Rita Lee: Uma Autobiografia” (2016), ela descreveu o episódio em detalhes. “Cheguei ao ensaio e percebi um clima pesado. Até que Arnaldo quebra o silêncio e me informa: ‘Decidimos que, a partir de agora, você não faz mais parte dos Mutantes, pois queremos seguir um caminho progressivo e virtuoso, e você não tem o mesmo nível como instrumentista.'”
Sobre sua reação, afirmou que manteve a calma. “Em vez de me atirar no chão chorando e implorando por perdão por ser mulher, fiz a retirada silenciosa e elegante. Saí da sala de forma dramática, arrumei minhas coisas, peguei Danny (sua cadelinha) e fui embora. No caminho para São Paulo, parei e chorei, gritei, desabafei, xinguei como uma louca.”
‘Cansada das viúvas dos Mutantes’
Na sua autobiografia, Rita Lee expressou que já superou aquele período e criticou a obsessão do público por essa fase: “Estou cansada das viúvas dos Mutantes”, afirmou, indicando que sua carreira solo — cheia de sucessos e inovações — merecia tanto ou mais atenção.
Embora não tenha sido mencionada no documentário, Os Mutantes continuam sendo uma parte essencial da história do rock brasileiro e da trajetória de Rita. Contudo, como ressaltou Goldberg, “Rita brilha além disso” — e seu legado realmente vai além de qualquer banda.




