O Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI) iniciou uma investigação sobre um contrato firmado entre a Secretaria de Educação do Estado (Seduc-PI) e a Tron Atividades de Apoio à Educação Ltda, a qual é supostamente vinculada ao humorista e influenciador Whindersson Nunes. A apuração ganhou notoriedade após uma reportagem do jornalista José Ribas Neto, de Teresina, e foi confirmada pela coluna da jornalista Andreza Matais, no portal Metrópoles.
O contrato, assinado em agosto de 2024 sem o devido processo licitatório, tinha um valor inicial de R$ 4,9 milhões, mas foi posteriormente aditado, totalizando R$ 11 milhões. O acordo permanece vigente até agosto de 2026 e é financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Uma denúncia enviada ao TCE-PI alega que a contratação direta teria favorecido a empresa de Whindersson de maneira irregular. O próprio estudo técnico da Seduc-PI, conforme relatado, reconheceu a existência de outras empresas qualificadas para oferecer os mesmos serviços, o que, em teoria, permitiria uma concorrência aberta. A justificativa apresentada para a seleção da Tron foi considerada excessiva, levantando suspeitas de favorecimento.
O conselheiro Kleber Dantas Eulálio, responsável pelo caso, acolheu a manifestação do Ministério Público de Contas e determinou que a Diretoria de Fiscalização de Licitações e Contratações aprofundasse a investigação. O processo pode resultar em responsabilizações administrativas e até na anulação do contrato, caso sejam confirmadas as irregularidades.
Apesar das alegações, a colaboração entre a Seduc-PI e a empresa de Whindersson já gerou iniciativas práticas. Em dezembro de 2024, a secretaria organizou um evento destacando os “avanços no ensino de robótica” nas escolas estaduais. Professores receberam kits tecnológicos e participaram de um curso com carga horária de 92 horas. Whindersson esteve presente na entrega dos certificados, expressando seu desejo de que o Piauí se torne uma referência na área.
Para o governo estadual, sob a liderança do governador Rafael Fonteles (PT), essa iniciativa visa promover o letramento digital e introduzir a robótica como uma ferramenta pedagógica inovadora em cerca de 100 escolas.
Em declaração ao portal LeoDias, a defesa de Whindersson Nunes, representada pelo advogado Caio Sanas, explicou que o artista atua apenas como embaixador institucional do Método Tron e que os direitos desse método pertencem à TRON S.A., uma empresa independente que não mantém contratos com o setor público. O advogado enfatizou que Whindersson não possui participação nem influência administrativa na Tron Atividades de Apoio à Educação Ltda., conforme documento apresentado à reportagem.
O advogado também destacou que a exploração do método ocorre através de distribuidoras licenciadas, que possuem contratos regulares e em conformidade com a legislação; o contrato em questão teria sido firmado por uma dessas distribuidoras, que afirma não ter sido formalmente notificada. A nota finalizou reafirmando o compromisso com a legalidade, transparência e boa-fé, além da disposição para colaborar com as autoridades e o poder público.