Ozzy Osbourne, que faleceu hoje aos 76 anos, havia manifestado o desejo de ceder seu corpo à ciência após sua morte. O cantor se via como um “milagre médico”, tendo sobrevivido a uma série de substâncias nocivas ao longo de sua vida. “De qualquer forma, sou um milagre médico. Quando eu partir, desejo doar meu corpo para o Museu de História Natural”, contou Ozzy em uma entrevista à revista “The Sunday Times”, em 2010.
O artista acreditava que médicos e pesquisadores poderiam aprender com seu corpo, contribuindo assim para futuras investigações e experimentos na área da saúde. “Não me importo de passar alguns dias assim, mas já estou nessa há 40 anos. Houve tempos em que consumia quatro garrafas de conhaque por dia. Durante as gravações de ‘The Osbournes’, tomava 42 diferentes medicamentos prescritos. Eu também fumava charutos como se fossem cigarros”, relatou.
Ele ainda brincou sobre o apelido de “Dr. Ozzy”, que ganhou devido ao grande estoque de medicamentos que possuía em casa. “O curioso é que meus amigos me chamam assim há anos – talvez porque eu era como uma farmácia ambulante. Mas isso foi no passado, antes das novas legislações. Jamais faria isso agora. Prometo.”
A notícia de sua morte foi confirmada pela família. “É com uma tristeza que as palavras não podem expressar que nosso querido Ozzy Osbourne faleceu esta manhã. Ele estava cercado de amor e na companhia de sua família. Pedimos que respeitem a privacidade de nossa família neste momento”, diz o comunicado enviado à imprensa.
A causa da morte ainda não foi divulgada, mas nos últimos anos, Osbourne enfrentou diversos problemas de saúde, incluindo o diagnóstico de Parkinson, revelado em 2020. Sua morte ocorre menos de três semanas após sua aposentadoria dos palcos. Em 5 de julho, Ozzy se reuniu com os membros do Black Sabbath para o show de despedida “Back to the Beginning”, que contou com a participação de ícones do metal, como Metallica e Guns N’ Roses.
“Estou de cama há seis anos, e vocês não têm ideia de como me sinto. Agradeço do fundo do meu coração”, declarou Ozzy durante sua última apresentação.
O “Príncipe das Trevas” deixou uma marca indelével no rock. Natural de Birmingham, Reino Unido, ele cresceu em uma família humilde e teve uma juventude repleta de desafios. Filho de operários, trabalhou em fábricas antes de se dedicar totalmente à música. Sofreu abuso na infância, abandonou a escola devido à dislexia e até passou seis semanas na prisão por roubo.
No final dos anos 60, formou uma banda com Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, que passou por diversos nomes até se tornar Black Sabbath, inspirado pelo filme de terror homônimo. O álbum de estreia, lançado em 1970, fez um enorme sucesso, e suas primeiras produções são consideradas fundamentais para o heavy metal, com clássicos como “The Wizard”, “Iron Man” e “War Pigs”.
Em 1979, Ozzy foi desligado do Black Sabbath devido ao seu vício em drogas e álcool, sendo substituído por Ronnie James Dio. Contudo, retornou à banda em 2013 para o álbum “13”. Paralelamente, sua carreira solo também foi bem-sucedida, com hits como “Crazy Train”, “No More Tears”, “Bark at the Moon” e “Mama I’m Coming Home”. Seu último trabalho, “Patient Number 9”, lançado em 2022, contou com colaborações de artistas renomados como Eric Clapton e Jeff Beck.
A vida de Ozzy foi marcada por diversas polêmicas, incluindo o incidente em que mordeu a cabeça de um morcego durante um show em 1982, acreditando que o animal era falso. Após perceber o engano, foi levado ao hospital e precisou receber vacinas contra a raiva.
Ozzy e Sharon Osbourne, sua esposa, tiveram um relacionamento tumultuado desde 1982, com diversas separações e reconciliações. Juntos, tiveram três filhos: Aimee, Kelly e Jack. Antes de Sharon, Ozzy foi casado brevemente com Thelma Riley, com quem teve outros dois filhos: Louis e Jessica. Em um momento conturbado de sua vida, ele foi preso por tentar estrangulá-la enquanto estava sob efeito de álcool.
A trajetória do casal foi retratada no clipe “Under the Graveyard”, que ilustra como Sharon ajudou Ozzy a superar seus vícios. A vida da família também foi documentada no reality show “The Osbournes”, transmitido entre 2002 e 2005, que conquistou um Emmy.
Após um grave acidente de quadriciclo em 2005, Ozzy enfrentou uma série de problemas de saúde, incluindo uma queda em 2019 que agravou suas condições. Durante esse período, ele revelou ter passado por momentos difíceis, enfrentando depressão devido ao tratamento prolongado. “Ao acordar, você descobre que algo mais deu errado. Começa a pensar que isso nunca vai acabar”, comentou em uma entrevista ao The Guardian.
O show de despedida de Ozzy ocorreu no dia 5 de julho, no estádio Villa Park, em Birmingham, com a presença de um público de 40 mil pessoas e 5,8 milhões de espectadores assistindo à transmissão ao vivo. Na ocasião, ele se apresentou solo e, pela primeira vez em 20 anos, voltou a tocar com Bill Ward, Tony Iommi e Geezer Butler.




