Assim que o apito final é ouvido, o “SE” entra em cena — reimaginando o que poderia ter sido e, muitas vezes, dificultando a evolução de quem precisa aprender. “E se o Artur Jorge ainda estivesse no comando do Botafogo…? E se o Arrascaeta não tivesse vacilado naquela jogada…? E se o Pulgar não tivesse marcado aquele gol contra…? E se o Neuer não tivesse efetuado aquela defesa incrível…? E se o Botafogo tivesse mantido sua intensidade durante a partida…?”
O “SE” é a figura mais comum no futebol. Ele não treina, não participa das discussões pré-jogo e não entra em campo nos momentos decisivos. No entanto, assim que o árbitro encerra a partida, ele aparece — adornado pelas camisetas da frustração, das soluções imediatas e das ilusões. Sua missão é clara: criar a narrativa que gostaríamos de ter vivenciado — e não a que realmente se desenrolou.
Na derrota do Flamengo por 4 a 2 frente ao Bayern de Munique, no Mundial de Clubes de 2025, o “SE” teve seu momento de destaque. Contudo, o futebol não se baseia em suposições — ele é constituído por decisões, processos e suas consequências. Os erros de Arrascaeta, o gol contra de Pulgar e a defesa precisa de Neuer são momentos que ficam marcados na memória seletiva dos torcedores. Mas, como observou Filipe Luís após o jogo, o Bayern “provoca o erro”. É um time que antecipa jogadas, força decisões rápidas, impõe intensidade e controla o ritmo do jogo. O Flamengo lutou, teve seus bons momentos, mas não conseguiu manter sua proposta. Em alto nível, não sustentar uma estratégia significa ser punido. O fato, embora difícil de aceitar, é que o Bayern nunca se viu realmente ameaçado durante a partida. Isso não diminui, em nada, a boa performance do time rubro-negro.
No embate entre Palmeiras e Botafogo, a situação foi semelhante. O Botafogo tentava repetir a estratégia reativa que havia funcionado contra o PSG, mas já havia demonstrado suas limitações contra o Atlético de Madrid. Diante de um Palmeiras dominante, paciente e inteligente, o plano se desfez. O 1 a 0 a favor dos paulistas talvez não reflita a clara superioridade da equipe de Abel sobre a de Renato Paiva. Aliás, a derrota levou à demissão de Renato Paiva, que esteve no cargo por pouco mais de três meses. Desde que se tornou SAF, o Botafogo já trocou de treinador oito vezes. Nenhum “SE” resiste a tal instabilidade.
A verdade é que o resultado é sempre fruto de algo muito mais intrincado do que parece. O jogo é uma construção dinâmica, influenciada pelas estratégias dos treinadores, pelo histórico das equipes, pelo nível de competição, pelo momento da temporada e pela quantidade de decisões sob pressão que os jogadores enfrentam, além da sequência aleatória de eventos que moldam os 100 minutos de uma partida.
O “SE” se apresenta quando tudo já se consumou. Ele serve para oferecer consolo, mas não esclarece. O “SE” proporciona um alívio temporário, mas embaça nossa percepção das causas reais do resultado. E aqueles que insistem em escalar o “SE” após os jogos tendem a perder novamente… na próxima disputa.
Felipe Ximenes publica sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras contribuições do colunista:
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