No turbulento ano de 2021, marcado por uma pandemia global devastadora e um vírus cruel que ainda era pouco compreendido, eu me encontrava em um momento de recuperação após um grave problema cardíaco que quase me custou a vida. No meio desse cenário desafiador, recebi uma mensagem de Luiz Alberto de Oliveira, uma das figuras mais emblemáticas do atletismo mundial. Ele, por sua vez, enfrentava seus próprios desafios, lutando contra uma doença renal crônica, mas permanecendo firme e resiliente, como um boxeador que se recusa a cair.
Recordo com um aperto no coração as nossas conversas naquele fevereiro abafado, onde discutíamos não apenas a vida no Qatar, onde ele deveria permanecer por mais dois anos para concluir seu tratamento, mas também as dificuldades enfrentadas pelo atletismo brasileiro. Essas trocas de mensagens, que se tornaram frequentes, sempre nos levavam a refletir sobre as tristezas e as glórias do esporte que tanto amávamos. Eu me lembrava dos momentos alegres que compartilhamos durante competições internacionais, onde sua presença sempre era marcada por uma calma firme, repleta de certezas e convicções.
Luiz Alberto era um homem de mágoas profundas, quase um desconhecido em sua terra natal, mas uma figura respeitada e admirada entre os atletas de todo o mundo. Minha primeira lembrança dele remonta a 1981, no Troféu Brasil de Atletismo, onde eu passava horas no estádio Célio de Barros, mais do que em casa. Foi ali que assisti a uma coletiva de imprensa onde ele falava sobre um de seus pupilos, um jovem atleta que estava prestes a quebrar um recorde mundial juvenil. A certeza em suas palavras transparecia a paixão e a dedicação que ele tinha pelo atletismo.
O momento chegou e, sob a sua orientação, o garoto de Taguatinga fez o impensável, estabelecendo um novo recorde mundial juvenil. O resto é história do atletismo. Com Luiz, surgiram outros talentos, todos moldados pela sua visão inovadora. Em 14 de fevereiro de 2021, Luiz compartilhou comigo que sua saúde havia se agravado e que aguardava um transplante. Embora preocupado, desviou a conversa para o futuro do atletismo e os Jogos de Tóquio, marcando uma videochamada para o final de março.
Infelizmente, a vida tinha outros planos. No dia 1 de março, uma mensagem dele chegou até mim, informando que retornaria ao hospital. A partir daí, soube que sua saúde só se deteriorava, até que, na madrugada de 1 de junho de 2021, recebi a trágica notícia de seu falecimento. No entanto, sua voz e legado continuam vivos, reverberando nos estádios e corações de atletas ao redor do mundo. Seu método de treinamento e suas lições de vida ainda são passados de geração para geração, enquanto suas histórias são lembradas com carinho por amigos e admiradores.
Em breve, completaremos quatro anos desde a partida desse grande treinador. Não seria o momento oportuno para corrigir a injustiça que o atletismo brasileiro perpetuou ao longo dos anos?
Ecos do final de semana:
No último fim de semana, acompanhei a emocionante celebração do atletismo em Doha, a última morada de Luiz Alberto, e a promessa de uma temporada inesquecível. O Giro d’Itália também trouxe surpresas, com uma disputa acirrada entre os ciclistas. O triathlon, com Miguel Hidalgo se destacando em Yokohama, fez os corações dos fãs pulsarem. E no tênis de mesa, Hugo Calderano brilha entre os melhores do mundo, mantendo viva a chama do esporte no Brasil.
Na sexta-feira, continuaremos, com ou sem Ancelotti!




