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Anna Muylaert estreia seu novo longa, A Melhor Mãe do Mundo, no Cine PE

Enquanto muitas histórias sobre violência doméstica costumam começar com finais felizes, o mais recente filme da diretora Anna Muylaert abre suas portas em uma delegacia, onde Gal (Shirley Cruz) busca denunciar seu marido. A burocracia falha a impede de obter a proteção necessária, e essa cena inicial prenuncia a poderosa atuação de Shirley Cruz como uma mãe que faria qualquer coisa para defender seus filhos.

Embora o debate sobre experiências abusivas frequentemente busque atribuir culpa ou até mesmo conivência à vítima, Muylaert, através de uma metáfora central, explora os motivos que tornam a ruptura de um vínculo matrimonial tão desafiadora. A fuga de Gal a leva à precariedade, trocando a segurança do lar pelas ruas de São Paulo, acompanhada de suas duas crianças, interpretadas por Rihanna Barbosa e Benin Ayo.

Gal se encontra à beira do abismo social, empurrando sua carroça diariamente para coletar materiais recicláveis. Como mulher negra casada com Leandro (Seu Jorge), ela enfrenta o dilema de não ter um lugar seguro para ir.

Enquanto vive em situação de rua, Gal tenta disfarçar a dura realidade para os filhos, fazendo parecer que sua nova vida é uma grande aventura. Essa metáfora se intensifica com a imagem dela carregando a pesada carroça e as crianças, simbolizando o peso do seu mundo. Há uma conexão perfeita entre o visual e o tema, elaborada pela diretora e pela atriz. Enquanto Ulisses abandona sua família para viver suas aventuras, para Gal, essa opção não existe.

Uma narrativa tão bem construída não é isenta de riscos. O tom aventureiro sugere uma reflexão sobre a ausência da representação dos perigos reais da vida nas ruas. A verdade é que, se algo terrível acontecesse com as crianças, o filme se tornaria insuportável.

Entretanto, Muylaert também aborda a questão das ocupações urbanas, onde pessoas habitam edifícios abandonados nas grandes cidades, representadas pela personagem Munda (Rejane Faria, sempre excepcional). Essa pode ser uma chance de recomeço.

A trama também se preocupa em mostrar o perigo constante do marido que Gal deixou para trás. Com Seu Jorge no elenco, sua presença é cuidadosamente integrada à história, revelando como um relacionamento abusivo se sustenta através de amigos e familiares. A introdução de Leandro e seu desenvolvimento geraram tensão no público durante a exibição. Em uma cena de churrasco familiar, o filme incorpora elementos de terror, revelando um universo de agressão masculina que Muylaert e seus atores construíram. As marcas da violência permeiam todas as interações presentes.

A Melhor Mãe do Mundo é aquela que almeja um futuro mais promissor. Embora o futuro de Gal e seus filhos seja incerto, ela se esforçará para torná-lo algo digno de ser vivido.

O Festival do Audiovisual Cine PE teve início na última segunda-feira (9/6) e se estenderá até 15 de junho no Recife (PE). Nesta 29ª edição, o evento apresentará 38 filmes em sessões gratuitas, no Teatro do Parque e no Cinema São Luiz. A Melhor Mãe do Mundo é um dos longas que participa da Mostra Competitiva e foi exibido na primeira noite do festival. A competição inclui também O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua, de Mariana Soares e Bruno Mazzoco; Senhoritas, de Mykaela Plotkin; Itatira, de André Luís Garcia; e Nem Toda História de Amor Acaba em Morte, de Bruno Costa.

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