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Análise: “Volta por Cima” é uma dramaturgia acessível que evita o clichê

Neste sábado (26), chega ao seu desfecho “Volta por Cima”, a novela das sete da Globo que demonstrou que é perfeitamente viável criar uma dramaturgia acessível sem recorrer a clichês. Em um horário geralmente associado a histórias mais leves ou fantasiosas, a trama idealizada por Claudia Souto conseguiu harmonizar entretenimento e relevância, abordando temas sensíveis de forma cuidadosa, evitando a armadilha do ativismo superficial.

Com um elenco predominantemente negro em papéis centrais e significativos, “Volta por Cima” apresentou personagens com histórias ricas, anseios complexos e vozes autênticas. A Madá, interpretada por Jéssica Ellen, foi o núcleo emocional da novela. Sua interpretação, ao mesmo tempo contida e intensa, trouxe à tona uma personagem forte e, ao mesmo tempo, vulnerável. Fabrício Boliveira encontrou o equilíbrio ideal entre carisma e tensão, dominando as cenas mais dramáticas como Jão. Milhem Cortaz, por sua vez, conferiu profundidade ao vilão Osmar, evitando a caricatura e se destacando com uma presença marcante.

Rodrigo Fagundes também se destacou de maneira impressionante. Conhecido por seu talento cômico, ele surpreendeu ao transitar com fluidez entre humor e melancolia, dando profundidade a Gigi, um personagem que poderia ser reduzido a um mero alívio cômico, mas que se tornou multifacetado e tocante. Um desempenho maduro e repleto de sutilezas.

Não podemos deixar de celebrar o retorno de Tereza Seiblitz às novelas da Globo, após mais de 20 anos. Sua presença foi um presente para os telespectadores e um lembrete da falta que ela faz no elenco da emissora. Com uma atuação refinada e certeira, ela provou que o talento é atemporal — apenas precisa de oportunidades.

“Volta por Cima” cumpriu a proposta de oferecer uma novela com alma popular, mas com um texto polido, atuações impactantes e a coragem de contar histórias que, recentemente, poderiam ser vistas como “alternativas” demais para o horário. No final, ficou claro que apostar em diversidade genuína — e não apenas como uma estratégia de marketing — resulta em uma conexão autêntica com o público, que é tanto inevitável quanto essencial.

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