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A Transformação do Mercado Audiovisual e da Moda pelos Influenciadores Digitais

O crescimento da presença de influenciadores digitais em setores tradicionalmente ocupados por modelos e atores profissionais tem sido notável. Um exemplo recente é o São Paulo Fashion Week (SPFW) de 2025, que contou com a participação de influenciadores como Gkay, Luísa Perissé, Maya Massafera e Beatriz Reis nas passarelas, além de personalidades como Bianca Andrade, Camila de Lucas e Pequena Lô em produções audiovisuais.

Esse fenômeno não ocorre por acaso; segundo o especialista em tecnologia e autor de obras sobre negócios e comunicação, Ricardo Cavallini, esses novos casos têm alcançado proporções sem precedentes na chamada “Economia da Atenção”. “Estamos testemunhando um cenário onde a visibilidade frequentemente se torna mais importante do que as habilidades técnicas. Há pessoas que escolhem médicos com base no número de seguidores no Instagram”, observa Cavallini.

Ele ainda destaca que a tendência de substituir profissionais por figuras conhecidas não é algo inédito. “Já vimos celebridades dublando personagens ou se candidatando a cargos políticos. Muitas vezes, a sociedade confunde fama com competência, levando a uma percepção errônea de que bilionários são gênios e cantores têm conhecimento profundo”, reflete.

Um exemplo claro dessa mudança é a maneira como influenciadores são utilizados para promover produtos ou interpretar papéis. “No passado, a escolha de uma figura pública era baseada em atributos de marca. Se eu precisava de alguém confiável, escolhia Tony Ramos; se buscava algo mais moderno, optava por Evandro Mesquita. Hoje, a maioria dos contratos se baseia exclusivamente na visibilidade”, explica.

Cavallini também menciona que o fenômeno da ascensão dos influenciadores está ligado ao crescente mercado financeiro que eles ocupam, que pode chegar a 500 bilhões de dólares globalmente até 2027, de acordo com o banco Goldman Sachs. “Não me entendam mal, influenciadores trazem diversas vantagens para as marcas, como criatividade e empatia com o público, mas não substituem um ator renomado; eles substituem a própria plataforma”, esclarece o especialista.

Esse contexto ajuda a entender por que figuras como Ivete Sangalo, Luciano Huck e Rafael Portugal aparecem em quase todas as campanhas publicitárias, independentemente do setor. “Quando uma agência ou cliente opta por alguém apenas por sua fama ou número de seguidores, está fazendo uma escolha fácil e segura. Essa abordagem resulta na repetição das mesmas personalidades em anúncios, pois o risco de um insucesso não recai sobre quem tomou essa decisão. Se a bilheteira de ‘Enrolados’ foi inferior à de ‘Toy Story 3’ ou ‘Frozen’, dificilmente alguém responsabilizará quem escolheu Luciano Huck para dublar o príncipe, já que muitos fatores influenciam as receitas”, explica.

Para Cavallini, o problema não reside na ascensão dos influenciadores, mas sim nas razões pelas quais são escolhidos: raramente pela qualidade artística, mas quase sempre pelo número de visualizações. Ele adverte sobre o potencial impacto desse modelo na formação profissional. “Se o sucesso na carreira deixar de depender da educação e do desenvolvimento técnico, um número reduzido de pessoas se sentirá motivado a se preocupar com isso”, avalia, alertando para o possível comprometimento da qualidade e profundidade das produções nas áreas de cinema, televisão e moda.

“Muitos filmes obtiveram sucesso ao escalar pessoas sem formação em atuação, mas é importante notar que Fernando Meirelles não escolheu os atores de ‘Cidade de Deus’ pela quantidade de seguidores, mas sim pela autenticidade. A questão é: você deseja apenas mídia ou quer realizar um bom filme?”, argumenta.

O futuro do audiovisual parece promissor, com influenciadores das redes sociais sendo convocados para projetos de filmes e séries. Um exemplo notável é a participação de Rafa Kalimann e Viih Tube no filme “Uma Babá Gloriosa”, que tem como estrela a atriz e cantora Cleo.

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