Com tamanhos que podem ultrapassar 25 metros, as baleias já são impressionantes por sua dimensão. No entanto, essas majestosas criaturas marinhas também têm a intrigante capacidade de “cantar” debaixo d’água. Esses sons, que podem percorrer centenas de quilômetros, desempenham funções que vão muito além de sua beleza estética.
As diferentes espécies de baleias se comunicam de maneiras distintas. Embora todas produzam sons, como cliques e estalos utilizados para ecolocalização, o que é considerado canto é mais característico de algumas delas. “Esse tipo de som, que é complexo e estruturado, é mais comum nas baleias-jubarte”, esclarece Hudson Monteiro, professor de biologia do Colégio Marista Champagnat Taguatinga, em Brasília.
A bióloga Marta Fischer, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ressalta que o termo “canto” vai além da simples emissão de sons. “Chamamos de canto porque essas vocalizações formam composições complexas e harmônicas que se repetem, assemelhando-se a uma canção humana,” comenta. Já os estalos e assobios, que são comuns a todas as espécies, estão mais associados à ecolocalização, uma técnica que ajuda na navegação e na localização de presas em ambientes com pouca visibilidade.
Apesar de não possuírem cordas vocais como os seres humanos, as baleias desenvolveram estruturas específicas para a produção de som. Uma das teorias mais recentes, publicada na revista Nature em 2024, analisou três espécies e descobriu que as cordas vocais das baleias vibram contra uma almofada de gordura na laringe, permitindo a geração de sons simultâneos em diferentes frequências.
De acordo com Monteiro, as jubartes, por exemplo, utilizam sacos aéreos nasais localizados na cabeça para controlar o fluxo de ar. “É semelhante ao que fazemos ao meditar e emitir um som com a boca fechada. No caso das baleias, a vibração não passa pelas cordas vocais, mas por essas estruturas especializadas que possibilitam a propagação do som por grandes distâncias no oceano,” detalha o professor.
As vocalizações das baleias têm várias funções, dependendo do contexto e da espécie. Nas jubartes, o canto desempenha um papel direto durante o acasalamento, com apenas os machos cantando na época reprodutiva como forma de exibição, conforme destaca Monteiro. Em outras situações, as vocalizações servem para facilitar a comunicação entre membros do grupo, organizar a alimentação ou até auxiliar na navegação.
A doutora em ecologia Morgana Bruno, professora de ciências biológicas na Universidade Católica de Brasília (UCB), menciona que os sons mais elaborados surgem principalmente durante a seleção sexual, enquanto vocalizações mais simples ocorrem ao longo do ano. “Como o som se propaga melhor na água e o olfato das baleias não é muito desenvolvido, essa habilidade se torna crucial para a navegação,” explica a especialista.
As canções das baleias variam não apenas entre espécies, mas também conforme a região. Populações que habitam áreas geográficas semelhantes tendem a compartilhar padrões de canto semelhantes, embora com pequenas variações. Por outro lado, populações isoladas desenvolvem “canções” únicas, como se cada uma tivesse uma assinatura acústica distinta. “É possível identificar a origem do canto analisando suas características específicas,” aponta Morgana.
Porém, esse sistema de comunicação enfrenta ameaças. A crescente poluição sonora nos oceanos, causada por embarcações, sonares e atividades industriais, afeta diretamente a emissão e recepção dos sons das baleias. “A frequência do canto desses animais coincide quase perfeitamente com os sons produzidos pelos humanos,” alerta Morgana. Isso pode dificultar a busca por parceiros e a navegação. Como solução, ela sugere evitar atividades barulhentas nas áreas frequentadas pelas baleias durante suas migrações.
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