Para cada mil produções originais lançadas pela plataforma de streaming, é razoável esperar que surja uma obra realmente inovadora, como “Round 6” ou “Dark”. Em um cenário de consumo rápido e constante, não é necessário que todas as histórias sejam verdadeiras obras-primas. No entanto, seria desejável um esforço maior para apresentar narrativas mais elaboradas, de modo a evitar que o público se sinta entediado ao prever o desenrolar de enredos que, em teoria, deveriam surpreendê-los.
Duas das produções mais assistidas na Netflix Brasil, a americana “Indomável”, que recentemente estreou, e a espanhola “Ângela”, que chegou ao catálogo há duas semanas e permanece entre as dez mais vistas, enfrentam esse problema.
Embora “Indomável” e “Ângela” sejam bem produzidas e apresentem um elenco talentoso, pecam no que diz respeito ao roteiro. Apesar de suas premissas promissoras, essas séries optam por escolhas criativas previsíveis, desperdiçando assim o potencial que possuem.
A sensação que prevalece é a de que os produtores e executivos da Netflix hesitaram em assumir riscos ou não concederam tempo suficiente para que os roteiristas elaborassem enredos que desafiassem as expectativas e trouxessem uma nova perspectiva ao gênero de suspense. Tanto “Indomável” quanto “Ângela” são produções competentes, mas facilmente esquecíveis. Em poucas semanas, podem cair na obliteração.
Uma das grandes vantagens de criar conteúdo para uma plataforma de streaming deveria ser a liberdade criativa necessária para capturar a atenção de um público inundado com uma quantidade imensa de material mediano. Apostar em narrativas que se mantêm em clichês é não apenas desconsiderar a inteligência do espectador, mas também perder a oportunidade de desenvolver projetos que poderiam revolucionar o audiovisual, como a HBO fez entre os anos 1990 e início dos anos 2010.




