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Principais Inovações no Combate ao Câncer Apresentadas na ASCO 2025

O maior evento de oncologia do planeta, organizado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), chegou ao fim na última terça-feira (3/6), revelando pesquisas que trazem avanços significativos na prevenção e tratamento do câncer. Entre os dias 30 de maio e 3 de junho, diversos estudos foram apresentados, destacando novas terapias, métodos de detecção precoce e tratamentos personalizados.

“Observamos progressos notáveis, especialmente na combinação de imunoterapia com tratamentos convencionais, além da busca por abordagens terapêuticas mais adequadas para cada paciente. Estamos caminhando em direção a uma medicina cada vez mais individualizada”, afirma o oncologista Fernando Maluf, que participou da ASCO 2025 e acompanhou as apresentações.

O portal Metrópoles consultou especialistas que estiveram no congresso para que eles compartilhassem quais estudos consideram mais significativos deste ano. Confira as principais inovações:

Um dos destaques foi um estudo sobre o câncer de cabeça e pescoço, que é bastante comum no Brasil e não apresentava melhorias no tratamento há duas décadas. A pesquisa, que foi apresentada na sessão plenária do evento (destinada aos trabalhos mais relevantes), revelou que a adição de imunoterapia ao tratamento convencional reduziu consideravelmente o risco de recidiva. A introdução do nivolumabe em conjunto com cirurgia, radioterapia e quimioterapia elevou a taxa de pacientes livres da doença após três anos de 53% para 63%.

“Este é um progresso que não víamos há muito tempo. Reduzir o risco de retorno da doença equivale a diminuir o risco de mortalidade”, destaca o oncologista Gustavo Schvartsman, do Hospital Albert Einstein.

Outro ponto importante da ASCO 2025 foram os fármacos conjugados, que atuam como “cavalos de Troia”, quebrando as defesas das células tumorais e liberando a quimioterapia diretamente nelas. Um dos estudos, focado no câncer de mama, demonstrou que a combinação de medicamentos, incluindo o trastuzumabe deruxtecana, reduziu as defesas do tumor e o risco de progressão da doença em 44% em pacientes com câncer de mama HER2-positivo metastático, conforme mencionado pelo oncologista Márcio Almeida, de Brasília. Embora o trastuzumabe deruxtecana esteja disponível no Brasil, ainda não é utilizado para esta condição.

Avanços também foram observados nas terapias CAR-T, que potencializam a resposta das células de defesa do organismo ao modificar as células do próprio paciente. Inicialmente restrita a doenças hematológicas, a técnica mostrou resultados promissores em tumores sólidos, como os gástricos e cerebrais. Um estudo focado no câncer de estômago revelou que a terapia CAR-T aumentou em 40% a sobrevida de pacientes com câncer avançado da junção gástrica ou gastroesofágica (JGE).

Além disso, os resultados do estudo CARTITUDE-1 foram considerados históricos no combate ao mieloma múltiplo. Após uma única infusão de CAR-T, 33% dos pacientes permaneceram cinco anos sem sinais da doença, que normalmente tem uma expectativa de vida média de apenas oito meses em estágios avançados. O hematologista Angelo Maiolino, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), enfatiza que, apesar da eficácia comprovada da técnica, ainda existem desafios a serem superados.

“Trato mieloma há 40 anos e nunca pensamos que teríamos um cenário tão promissor. No entanto, os altos custos ainda são um empecilho, mesmo considerando que o tratamento é administrado uma única vez e pode proporcionar anos sem a necessidade de medicação. O preço da terapia e a burocracia para a inclusão dos pacientes continuam sendo dificuldades”, lamenta.

Dois estudos focados no trato gastrointestinal também mostraram uma redução de cerca de 10% no risco de recidiva da doença. No câncer de intestino, um estudo revelou que a prática regular de atividades físicas reduziu em 28% a reincidência da doença e em 37% o risco de morte, quando comparado a um grupo que apenas recebeu orientações de saúde. Outro estudo, relacionado a um subtipo de tumores intestinais com instabilidade de microssatélites, evidenciou que a adição de imunoterapia após cirurgia padrão reduziu em 50% o risco de recorrência ou metástase.

Em tumores gástricos e de junção gastroesofágica, a combinação do imunoterápico durvalumabe com quimioterapia antes e depois da cirurgia também diminuiu em cerca de 10% as chances de recidiva em um período de dois anos, solidificando a imunoterapia como um pilar no tratamento de diferentes tipos de câncer.

“Observamos diversos estudos apresentando esse aumento de 10%. Embora possa parecer pouco, é um avanço significativo. Porém, todos esses tratamentos trazem uma certa toxicidade e custos elevados, e isso é algo que precisaremos discutir com os pacientes que podem necessitar de um tratamento mais intensivo”, conclui Schvartsman.

No câncer de pulmão de pequenas células, um estudo se destacou ao demonstrar que a combinação de atezolizumabe com lurbinectedina aumentou a sobrevida em comparação à imunoterapia isolada, reduzindo em 46% o risco de morte ou agravamento da doença.

A biópsia líquida, que identifica DNA tumoral circulante no sangue, tem se tornado uma importante ferramenta na medicina personalizada. O estudo Serena 6, um dos mais relevantes sobre câncer de mama, mostrou que essa tecnologia possibilitou a troca precoce de tratamento em pacientes com câncer de mama metastático, antes de qualquer progresso visível por imagem. A detecção da mutação no gene ESR1 permitiu o uso antecipado de camizestranto, uma segunda linha de tratamento, adiando o avanço da doença. No entanto, a implementação em larga escala ainda enfrenta obstáculos devido ao alto custo dos testes e à necessidade de monitoramento frequente.

A programação da ASCO também incluiu estudos sobre fatores externos ao tratamento medicamentoso. Um deles indicou que a administração de imunoterapia antes das 15h pode melhorar significativamente a eficácia do tratamento, possivelmente devido ao impacto do relógio biológico na resposta imunológica. Pacientes tratados pela manhã mostraram um controle quase duas vezes maior da doença.

Outro estudo randomizado em melanoma demonstrou que dietas ricas em fibras aumentam a resposta à imunoterapia. A simples substituição de alimentos refinados por integrais contribuiu para melhores desfechos clínicos, reforçando a relação entre a microbiota intestinal e a imunidade.

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