No dia 2 de junho, o mundo se mobiliza para discutir um problema que vem crescendo cada vez mais: os transtornos alimentares. A data é marcada como o Dia Mundial de Conscientização sobre esses distúrbios, e estima-se que cerca de 15 milhões de pessoas no Brasil lidem com condições como anorexia, bulimia e compulsão alimentar. Isso representa um em cada 20 brasileiros, com uma incidência especialmente alta entre jovens adultos e adolescentes. Apesar da falta de dados oficiais no país, especialistas consultados pelo Metrópoles indicam que a busca por um corpo magro e não saudável está se tornando cada vez mais comum, em grande parte influenciada pelas redes sociais.
Uma pesquisa divulgada na Jama Pediatrics em 2023 revelou que um a cada cinco jovens entre 6 e 18 anos apresenta algum tipo de desordem alimentar, sendo que entre as meninas, essa taxa chega a 30%. Especialistas afirmam que a comparação com influenciadores e celebridades nas mídias sociais distorce a percepção que esses jovens têm de seus próprios corpos. Imagens de corpos muitas vezes inatingíveis podem resultar em um ciclo de frustração, baixa autoestima e hábitos alimentares prejudiciais, levando a sérios problemas de saúde, incluindo desnutrição e risco de morte.
De acordo com o psicólogo Filipe Colombini, da Equipe AT em São Paulo, fatores neuropsicossociais têm um impacto significativo no desenvolvimento desses distúrbios entre os jovens. O ambiente familiar e social, onde a estética e a saúde são frequentemente associadas à magreza, contribui para uma relação disfuncional entre as crianças e a alimentação. “A influência ocorre através dos modelos que as crianças observam em seu cotidiano, e esse contexto social pode levar a condições como anorexia e bulimia, bem como ao excesso de alimentação, resultando em obesidade, que é um fator de risco importante para várias doenças”, explica o especialista.
Colombini também observa que pressões durante as refeições, comparações constantes e punições podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Mesmo que os pais não sofram de distúrbios alimentares, é possível que padrões prejudiciais sejam transmitidos inconscientemente.
Identificar esses problemas precocemente pode ser um desafio, uma vez que os transtornos alimentares geralmente se manifestam de forma silenciosa e envolvem sentimentos de culpa, levando muitos a esconderem seus comportamentos. Sinais de alerta incluem isolamento, ansiedade em situações de refeições em grupo e uma fixação excessiva na imagem corporal. O jovem pode passar a classificar os alimentos com base em calorias, em vez de sabor ou textura, e pode perder o prazer ao comer. A comparação constante com os outros, somada ao medo do julgamento, cria um ambiente interno hostil que muitas vezes passa despercebido por pais e educadores.
A nutricionista Thayane Fraga, da Holiste Psiquiatria, enfatiza a importância do apoio familiar e de uma abordagem multidisciplinar ao perceber uma relação desequilibrada com a comida. “A linha entre cuidar da saúde e a busca por um corpo perfeito é muito tênue e, cada vez mais, leva ao adoecimento. O nosso foco deve ser sempre em cultivar uma relação saudável com o próprio corpo”, afirma.
Os transtornos alimentares tendem a ser silenciosos. Estima-se que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo sofram de anorexia nervosa. Campanhas de conscientização, como a que envolveu a modelo Isabelle Caro, que faleceu três anos após as fotos, tornaram-se icônicas na luta contra a anorexia.
Os sintomas dos transtornos variam dependendo do tipo. Na anorexia, por exemplo, podem surgir sinais de desnutrição, como perda de peso extrema, fraqueza, anemia e, no caso de mulheres, ausência de menstruação. Já a bulimia pode causar problemas gastrointestinais, desidratação e complicações nas glândulas salivares. Um aspecto marcante de todos os distúrbios é o sofrimento psicológico, que envolve uma preocupação excessiva em não ganhar peso e uma distorção da imagem corporal.
Especialmente entre adolescentes, confrontos diretos sobre os transtornos alimentares, como forçar o jovem a comer ou expô-lo à violência, podem agravar o quadro. O neurocientista Alan Martins, da plataforma de fitness Wefit, recomenda que, ao notar sinais de alerta, é fundamental buscar orientação médica. “Uma equipe multidisciplinar — que inclua psicólogos, nutricionistas e endocrinologistas — é essencial para tratar o problema de maneira integrada. Essa abordagem permite cuidar tanto da saúde emocional e comportamental quanto da reeducação alimentar, aumentando significativamente as chances de recuperação e bem-estar a longo prazo”, afirma.
Outras recomendações incluem estabelecer horários fixos para as refeições, o que ajuda a evitar exageros e a tendência de pular refeições, além de contribuir para um melhor funcionamento do metabolismo e do humor. A prática regular de atividades físicas também é benéfica, desde que não se transforme em uma obsessão que substitua a compulsão alimentar original.
“Superar um transtorno alimentar requer entender que a recuperação é um processo contínuo e gradual. Evitar a autocrítica, cuidar da saúde mental, compartilhar sentimentos e experiências, celebrar pequenas conquistas e, acima de tudo, acreditar em si mesmo são atitudes cruciais ao longo dessa trajetória”, conclui Martins.
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