Pacientes que se encontram em estado vegetativo ou em coma podem experimentar melhorias significativas por meio de técnicas de neurorreabilitação, com alguns casos apresentando até o dobro de suas capacidades de interação. Essa informação foi compartilhada pela psicóloga britânica Barbara Wilson, uma renomada especialista em neuropsicologia.
Barbara foi uma das palestrantes no 1º Congresso Latino-Americano da Federação Mundial de Neurorreabilitação (WFNR), que ocorreu no Hospital Sarah, com a programação se estendendo até a sexta-feira (9/5). Durante sua apresentação, ela enfatizou que, mesmo após sofrer uma lesão cerebral grave, os pacientes em coma ainda são candidatos viáveis para intervenções terapêuticas. “Muitas pessoas acreditam que esses pacientes não reagem ou que não há progresso, mas isso revela apenas uma carência de métodos para avaliar a agitação, os sons e os níveis de atenção. Dentro do coma e do estado vegetativo, existe um vasto potencial para melhorias”, ressaltou.
Reações, mesmo que discretas, podem sinalizar diferentes níveis de consciência que podem ser quantificados através de escalas específicas, como a JFK-Coma Recovery Scale ou a Wessex Head Injury Matrix. A psicóloga observou que muitos desses pacientes mantêm ciclos de sono e vigília, embora estejam em estados de consciência mínima, com uma compreensão limitada de si mesmos e do entorno.
“Devemos focar nas capacidades que eles ainda possuem, em vez de nos concentrarmos no que não podem fazer. Isso não se resume a buscar qualquer movimento dos dedos, mas sim a compreender como eles interagem com o mundo, quais são suas limitações e se é possível superá-las”, explica.
Barbara recomenda diversas estratégias terapêuticas para pacientes com lesões cerebrais severas, como a utilização de testes objetivos com cartões de imagens e objetos para tentar estabelecer formas de comunicação. Além disso, o uso de ferramentas que permitam aos pacientes ficarem de pé ou sentados pode estimular uma resposta maior.
“Em geral, 75% dos pacientes em estado vegetativo mostram uma melhora nas respostas aos testes quando são colocados em pé. Em alguns casos, eles até dobram seus níveis de atenção e atividade. Isso demonstra que, apesar das dificuldades em perceber as melhorias, ainda existem avanços a serem conquistados”, defende.
Barbara também observa que pacientes que são mantidos sentados demonstram melhorias em suas respostas, embora em um grau inferior aos que são colocados em pé. Essa diferença pode ser atribuída ao aumento da estimulação sensorial e do controle postural, mesmo em condições graves.
O progresso, no entanto, nem sempre é imediato. Um dos casos que ela compartilhou foi o de Gary, um paciente sobre o qual escreveu um livro. Aos 28 anos, Gary sofreu uma violenta agressão por uma gangue, resultando em fraturas cranianas e sérios danos cerebrais. Ele permaneceu com pouca consciência do seu entorno por 19 meses antes de começar a mostrar sinais de recuperação. Após três anos de tratamento com Barbara, ele conseguiu recuperar a consciência e, exceto por algumas limitações físicas, hoje leva uma vida normal.
“Com reabilitação especializada e apoio familiar constante, Gary superou as expectativas. Ele demonstra que, ao contrário do que muitos acreditam, é possível obter ganhos significativos em pessoas que passaram por um longo período de consciência reduzida”, afirma. “A primeira vez que percebi que ele parecia mais responsivo foi quando estava sob o estresse de usar um colar cervical. Para muitos, isso teria passado despercebido”, conclui a especialista.
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