A inteligência artificial está aprimorando suas habilidades musicais e, cada vez mais, se estabelecendo nas plataformas de streaming. De acordo com informações divulgadas pela Deezer na quarta-feira passada (16/4), aproximadamente 18% das faixas disponíveis na plataforma francesa são completamente criadas por IA, um dado que ilustra a rápida evolução digital nas mídias sonoras.
Atualmente, mais de 20 mil novas composições geradas por algoritmos são adicionadas diariamente à Deezer, quase o dobro da quantidade registrada há apenas quatro meses. Essa explosão de produção, ou, neste caso, programada, evidencia um panorama onde a tecnologia não só compõe, mas também ocupa espaço nas prateleiras virtuais, ao lado de artistas humanos.
“A onda de conteúdo gerado por IA continua a inundar as plataformas de streaming, e não vemos indícios de que essa tendência vá desacelerar”, comentou Aurelien Herault, diretor de inovação da Deezer. Ele acrescentou que, desde janeiro, uma ferramenta desenvolvida internamente tem auxiliado na identificação e filtragem desse tipo de conteúdo nas recomendações automáticas destinadas aos 9,7 milhões de assinantes da plataforma.
As músicas criadas por inteligência artificial são composições produzidas por sistemas que foram treinados para compor, cantar e escrever letras de forma autônoma, sem a necessidade de músicos humanos. Esses sistemas analisam uma vasta quantidade de músicas já existentes e conseguem criar novas faixas a partir do zero. Em muitos casos, a IA também é capaz de combinar vozes e estilos, permitindo que a voz de um artista seja utilizada para interpretar a canção de outro, criando uma espécie de “cover” realizado por máquinas, que imitam até as emoções da voz original.
Com o aumento das músicas geradas por IA, surgem também disputas legais relacionadas ao uso dessa tecnologia. Ferramentas como Suno e Udio, que se especializam na criação de faixas musicais através de inteligência artificial, estão enfrentando processos judiciais por parte de grandes nomes da indústria, como Universal Music Group, Warner Music Group e Sony Music. Os processos alegam violação de direitos autorais devido ao uso não autorizado de gravações de artistas para treinar os modelos de IA.
A Deezer afirma que sua ferramenta de detecção é capaz de identificar criações provenientes dessas duas plataformas, o que sugere uma tentativa de se proteger contra os desafios legais e a pressão da indústria musical.
A controvérsia vai além do campo jurídico. Artistas como Billie Eilish, Nicki Minaj e Stevie Wonder, entre outros, assinaram uma carta aberta alertando sobre os perigos de a IA “sabotarem a criatividade” e comprometerem o espaço dos músicos humanos.




