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‘Hollywood como um espaço de resistência: a mensagem de Juma Xipaia’

A líder indígena Juma Xipaia passou a última semana em Hollywood, mas seu pensamento estava distante, conectado à floresta e à família. Não estamos nos referindo ao evento da COP30, que ocorre na capital do Pará, sua terra natal, enquanto ela promove nos EUA o documentário “Yanuni”, no qual é protagonista e co-produtora.

A saudade da natureza e dos entes queridos é uma constante nas cenas do filme dirigido pelo austríaco Richard Ladkani, com coprodução de Leonardo DiCaprio. “Yanuni” retrata a trajetória de Juma na luta pelos direitos dos povos indígenas, desde sua adolescência no Médio Xingu até suas viagens pelo mundo em busca de apoio. Aos 24 anos, ela se tornou a primeira mulher cacique da região e integrou o Ministério dos Povos Indígenas entre 2023 e abril deste ano, quando deixou sua aldeia para encarar a arquitetura moderna de Brasília.

Conforme seu site oficial, Juma também passou um ano exilada na Suíça após ser alvo de vários atentados por garimpeiros.

Em Los Angeles, Juma apresentou “Yanuni” durante o Red Nation International Film Festival, um festival de cinema indígena realizado em um shopping a céu aberto. “Reconheço a importância de estar aqui [em Hollywood]”, declarou a líder a Ecoa. “Este também é um espaço de resistência que precisamos reivindicar e permanecer.”

Ela destacou como esse ambiente é novo para ela. “Nunca imaginei estar aqui. No entanto, nossa presença tem aumentado, não apenas como protagonistas, mas também como produtoras e diretoras”, completou.

“Isso é algo bem diferente do que vivíamos anos atrás”, continuou Juma. “No passado, a indústria do audiovisual nos via como uma atração exótica. Isso está mudando à medida que reivindicamos nosso espaço e mostramos nossa militância.”

Juma tem exibições do filme para eleitores do Oscar e do Globo de Ouro, além de festivais nos EUA, aproveitando a visibilidade das premiações para dar voz à causa dos povos indígenas no Brasil. “Estamos em uma corrida para o Oscar. Nunca pensei que ‘Yanuni’ chegaria tão longe. Estamos avançando passo a passo. Quem sabe possamos fazer parte da lista final”, afirmou a líder indígena de 33 anos, mãe de quatro filhos e estudante de medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA).

No dia 16 de dezembro, a Academia de Cinema e Artes Cinematográficas revelará os 15 documentários pré-selecionados ao Oscar, com os cinco indicados finais sendo anunciados em 22 de janeiro e a cerimônia marcada para 15 de março.

Mesmo com uma agenda lotada em Los Angeles, Juma não deixou de acompanhar a COP30. “A COP tem diversos objetivos. E nessa luta, somos todos aliados. Se eu estivesse lá agora, ninguém estaria aqui”, comentou. “Estou acompanhando tudo em tempo real e articulando. Tenho muitos parentes lá. Iniciei essa jornada e voltarei para o final.”

A líder indígena participará de três exibições de “Yanuni” em Belém nesta semana, começando hoje na Casa Niaré. Amanhã, o filme será exibido no Navio do Greenpeace e, na quinta-feira, na Mostra de Cinema da Amazônia, no Cine Líbero Luxardo.

No documentário, Juma também é vista em outra COP, a de Glasgow (Escócia), que ocorreu em 2021. “Aqui, ao olhar ao redor, sinto uma solidão profunda”, ela reflete no filme enquanto caminha por uma cidade estrangeira no inverno. “Estarão todos adormecidos? Estarão nos ouvindo?”

O filme inicia em Brasília, durante um protesto de povos indígenas contra o governo Bolsonaro, onde os manifestantes enfrentam “tiro, porrada e bomba”, como diz Juma, que relembra o ocorrido anos depois, ao entrar no Ministério dos Povos Indígenas, criado pelo governo Lula em 2023.

“Seremos ingênuos ao sermos otimistas?”, ela questiona no documentário ao aceitar o cargo de secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do novo ministério. “Teremos poder de promover mudanças? Não sei.”

O filme também apresenta o trabalho de seu parceiro, o analista ambiental Hugo Loss, coordenador de Operações de Fiscalização do Ibama, que lidera ações contra garimpos ilegais na Amazônia.

Após a exibição em Los Angeles, Juma interagiu com o público com a ajuda de uma tradutora, cumprimentando a todos em sua língua nativa, inclinando a cabeça com um cocar colorido. “Isso não é entretenimento, não é apenas um filme”, alertou Juma aos presentes. “É um forte chamado de urgência para a humanidade. Espero que vocês ouçam.”

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